— Quando um paciente idoso apresenta sintomas respiratórios, é essencial fazer uma investigação aprofundada, além do tratamento, para evitar que o quadro evolua para SRAG — reforça o infectologista.
Com a maior circulação de vírus no outono e inverno, especialistas alertam para cuidados básicos que podem evitar o contágio e a propagação da gripe:
— É importante lembrar que, além da gripe, também estamos lidando com a covid-19, o vírus sincicial respiratório (VSR) e a pneumonia bacteriana. Todas essas doenças exigem atenção e cuidado — alerta Gewehr.
Segundo o Boletim InfoGripe da Fiocruz, referente à Semana Epidemiológica 20 (11 a 17 de maio), ao todo, 20 das 27 unidades federativas apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco, com tendência de crescimento, incluindo o Rio Grande do Sul.
A região Centro-Sul, onde está o RS, vive um crescimento expressivo dos casos, com níveis de incidência de moderado a muito alto.
Entre as capitais brasileiras, 16 estão atualmente em nível de alerta, risco ou alto risco para SRAG — entre elas, Porto Alegre. Segundo especialistas, os decretos de emergência são ferramentas importantes para permitir uma resposta mais rápida e eficiente do poder público.
— O decreto de emergência é necessário para reorganizar o fluxo de atendimento e mobilizar recursos diante de uma demanda que está muito acima do previsto — explica Gewehr.
A vacinação anual contra a gripe é a principal forma de proteção, especialmente contra casos graves e mortes. Mesmo assim, os índices seguem muito abaixo da meta.
No Rio Grande do Sul, a cobertura geral está em apenas 29,28%, com destaque negativo entre os grupos prioritários:
A vacina oferecida pelo SUS é trivalente, garantindo proteção contra os vírus da influenza A H1N1, H3N2 e influenza B. No entanto, a baixa cobertura vacinal contra a gripe em 2025 é motivo de preocupação entre especialistas e autoridades de saúde.
Para Gewehr, o fenômeno é multifatorial. Um dos principais fatores é o impacto duradouro da pandemia de covid-19, que contribuiu para o fortalecimento de movimentos antivacina no Brasil, segundo ele.
De acordo com o especialista, impulsionadas por desinformação e notícias falsas, essas correntes acabaram abalando a confiança da população nas campanhas de imunização, afetando não apenas a adesão às vacinas contra a covid-19, mas também contra outras doenças, como a influenza.
Além disso, questões práticas também influenciam negativamente a cobertura. Para o especialista, embora as vacinas estejam disponíveis gratuitamente na rede pública, muitas pessoas enfrentam dificuldades de o, seja por limitações de deslocamento, seja pelos horários s de funcionamento dos postos de saúde.
Gewehr também aponta para o que chama de “fadiga vacinal” — um cansaço coletivo após o intenso calendário de vacinação imposto pela pandemia.
— Muitas pessoas se vacinaram várias vezes para a covid-19 e aram a ver esse esforço como algo encerrado, deixando de lado outras imunizações igualmente importantes — observa.
Ele defende estratégias ativas de busca por essas pessoas, como campanhas itinerantes ou domiciliares, para reverter o cenário e ampliar a proteção da população.
A meta do Estado é alcançar 90% de cobertura entre os prioritários, mas a adesão tem diminuído ano após ano.
— No ano ado, fechamos com 52,5%. Em 2023, 61,7%. Este ano, estamos ainda mais abaixo — alerta Renata Petzhold Mondini, analista da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
A campanha de vacinação começou em 7 de abril. Até terça-feira (20), foram aplicadas 313.762 doses em Porto Alegre. Do total, 144.502 foram nos grupos prioritários — o que representa 36,58% da meta de 395.061 pessoas vacinadas nesse público.
— A vacina da gripe é essencial porque reduz o risco de hospitalização e morte. Ela pode não impedir o contágio, mas reduz significativamente as complicações da doença. Existe, inclusive, uma versão de alta dose, chamada Efluelda, disponível na rede privada, que oferece até 24% mais proteção e poderia ser incorporada ao SUS — avalia Gewehr.
Para tentar reverter o cenário, o Estado liberou a vacinação para toda a população acima de seis meses e promoveu, no sábado (24), o Dia D de vacinação. Ainda assim, a orientação segue reforçando a prioridade dos públicos mais vulneráveis.
Na manhã de sexta-feira (23), o movimento era intenso no Centro de Saúde Modelo, na Avenida Jerônimo de Ornelas, em Porto Alegre. Entre idosos e acompanhantes, muitos buscavam a vacina contra a gripe.
A aposentada Maria Elizete Pozzobon, de 70 anos, natural de Santa Maria e moradora da Capital há quatro décadas, conta que ela e a família fazem questão de se vacinar todos os anos.
— Todo ano viemos nos vacinar. Este ano tivemos algumas dificuldades, por isso estamos vindo agora em maio. Já viemos eu, a minha irmã de 87 anos e meu esposo — relata.
Para ela, a vacina é essencial:
— Eu acho importantíssimo. E lamento que muitas pessoas não deem o devido valor a isso. Agora que a gente tem essas vacinas, inclusive covid-19 e outras, fornecidas gratuitamente, a gente precisa valorizar. A vacina é prevenção. Se a gente tiver algum problema, será de menor intensidade.
O professor de língua portuguesa Carlos Augusto da Silva Dias, também com 70 anos, reforça a defesa da ciência e da imunização.
— Na situação em que a saúde se encontra, o mais importante é não estar num hospital. Quando uma pessoa é internada, os familiares também sofrem — lamenta.
Para ele, a confiança na ciência precisa ser resgatada.
— As pessoas têm que confiar na ciência. A ciência evolui, tem melhores equipamentos, melhores estudiosos. O retrocesso tem que parar. Eu sou professor, sou incentivador do conhecimento — reafirma.
Carlos também chama atenção para a falta de informação sobre doenças graves. Ele cita a própria experiência com um câncer no reto que, segundo ele, poderia ter sido evitado com diagnóstico precoce.
— Gripe mata, mas falta informação. E sem educação, não tem solução — resume.
A analista da SES reforça que a vacinação não deve ser vista apenas como proteção individual, mas como uma responsabilidade coletiva para frear o avanço da doença, reduzir hospitalizações e evitar mortes.
— O principal recado é: vacinem-se. Levem os idosos. Incentivem os familiares. A gripe pode parecer simples, mas na terceira idade, ela pode ser fatal.
* Produção: Leonardo Martins
É , mas ainda não recebe as newsletters com assuntos exclusivos? Clique aqui e inscreva-se para ficar sempre bem informado!