Outro dia li uma frase do diretor e roteirista polonês Andrzej Saramonowicz que é uma perfeita definição da nossa época: “É incrível que muitas pessoas sintam vergonha do seu próprio corpo enquanto poucas sentem vergonha de suas mentes”.
Se pararmos para pensar, muitos gastam mais tempo escolhendo o filtro perfeito para suas fotos no Instagram do que, por exemplo, pesquisando num dicionário a grafia correta de uma palavra usada na legenda. Basta ver quantos erros grosseiros de ortografia e de gramática encontramos com frequência nas redes sociais. Mas as fotos estão perfeitas, não é? Cada um com seu juízo de valor.
Saindo das redes sociais, ficamos diante de uma vida real sem filtro, mas com excesso de procedimentos estéticos – caros e nem sempre eficientes. Fico me perguntando o que leva um adulto a investir tanto tempo e tanto dinheiro em sua aparência externa, enquanto claramente lhe falta discernimento, pensamento crítico e capacidade de reflexão. Uma pessoa que chega ao extremo de colocar em risco sua saúde para aparentar uma juventude que não tem mais e que jamais vai voltar, na minha opinião, demonstra claros sinais de burrice.
Quem não aceita o envelhecimento natural do corpo, as marcas do tempo na pele e no rosto, certamente não está em paz com sua própria trajetória. Entendam, não estou falando aqui de usar um creminho para suavizar linhas de expressão, nem de exercícios físicos em busca de bem-estar, força e disposição. Nada disso: estou falando de quem chega ao reino do ridículo e perde a noção de si mesmo e de sua história em busca de um padrão de beleza e de uma aparência inalcançáveis e totalmente incompatíveis com a realidade.
É muito tempo, muito esforço, muita dor e muitos recursos gastos em procedimentos e atividades que não am de uma tentativa vã de domar a natureza. Tudo que há ao nosso redor está envelhecendo, é o ciclo natural das coisas. Para lidar com isso, é necessário permitir que nosso pensamento se desenvolva numa curva ascendente: se as plásticas no corpo quase sempre resultam em frustração a médio e longo prazo, a “plástica” no cérebro certamente trará bons resultados. Manter-se intelectualmente ativo, ler, estudar, visitar museus e galerias, conhecer novos lugares e novas culturas, aprender uma coisa diferente todos os dias, tudo isso rejuvenesce e fortalece nossas mentes. E, o mais importante, nos livra daquele sentimento tolo de que uma pessoa só tem valor enquanto é jovem: o conhecimento somado à experiência é que realmente nos reveste de valor, todo o resto é efêmero e fútil.
Para evitar que nosso pensamento seja tão pequeno a ponto de achar que a vida de alguém é melhor por causa de um corpo perfeito, de uma pele lisinha e de roupas e órios caríssimos, precisamos fortalecer nosso interior em primeiríssimo lugar. Andar em guerra com seu corpo e sua aparência demonstra que, há tempos, é a mente que vem perdendo importantes batalhas.