Uma das perguntas que mais ouço é: “E se não gostarem do que tu escreve? E se não gostarem do teu texto?”. A minha resposta geralmente é mais ou menos a seguinte: “Direito de quem não gostar. A minha opinião é só uma entre muitas”. Observo que as pessoas em geral têm muito receio de expressar o que pensam ou acham extremamente difícil navegar em meio à pluralidade de ideias e de visões de mundo.
Nos tempos de faculdade nos anos 1990, ei por uma experiência desagradável mas que foi fundamental para a formação do meu caráter. A Candice de 17 anos de idade teve a coragem de defender o conceito de propriedade privada no meio de um debate na aula de Sociologia em que a maioria dos meus colegas estava não defendendo, mas idolatrando o MST e a desapropriação de terras. Creiam, enquanto eu falava sobre um direito inalienável previsto pela Constituição, cerca de 30 outros universitários começaram a me vaiar e a me xingar de “burguesa”. Fosse eu uma menina facilmente impressionável, teria saído da sala de aula direto para o DCE comprar uma camiseta do Che Guevara e tentar me enturmar com a maioria de “esquerda”e ser respeitada pelo “grupo”.
Ainda bem que não fiz isso. Terminei minha fala, voltei para a minha cadeira, com o rosto vermelho e um pouco triste com a virulência demonstrada pelas pessoas com as quais eu teria que estudar o resto do semestre. Mas me mantive firmemente amparada pelas minhas convicções, meus estudos, minhas leituras, meus valores. E assim segui durante toda a minha trajetória acadêmica, profissional e pessoal: jamais tive receio de expressar minha opinião por medo do que os outros iriam pensar de mim. Assim como jamais tive qualquer problema em reconhecer quando minha opinião era equivocada ao me confrontar com argumentos e fatos convincentes e coerentes.
Claro que há de se pesar as consequências de se expressar com clareza e com sinceridade: a expressão de um pensamento, seja qual for, jamais a incólume. Haverá pessoas que concordam total ou parcialmente com o recorte que fazemos da realidade; contudo haverá muita gente que, ou não vai entender seu posicionamento, ou vai discordar completamente de sua visão, talvez até de forma agressiva como fizeram meus colegas daquela turma de Sociologia.
Faz parte do jogo, e levei anos para aprender a lidar com o fato de que, infelizmente, muitos interlocutores jogam seu lixo emocional no campo do debate intelectual, portanto a troca de ideias diferentes, que poderia ser frutífera, acaba se tornando ringue para um embate ional, portanto, irracional. Mesmo assim, acredito que sempre vale a pena falar, se expressar, discordar e concordar, porque só se evoluiu com o diálogo e a troca de visões e de experiências, de interpretações e de considerações, desde que bem fundamentadas. Fora disso, não existiria civilidade nem civilização, apenas opressão.