
As recentes mudanças nas regras para o reconhecimento da cidadania estiveram entre os assuntos abordados no discurso do cônsul da Itália no RS na comemoração do Dia da República Italiana, na última terça-feira (2). Durante evento realizado na Associação Leopoldina Juvenil, na Capital, Valerio Caruso falou sobre o endurecimento das regras, e embora tenha evitado juízos de valor sobre a nova lei, itiu que ela trouxe receio e angústia aos descendentes.
Após citar ações do consulado e exaltar as comemorações dos 150 Anos da Imigração Italiana, ele tratou da aprovação do Decreto 36/2025, encarado pelas comunidades do exterior como um corte nas relações entre a Itália e seus descendentes. De forma diplomática, Caruso reconheceu que a medida é um desafio, e propôs ser um elo de escuta, mediação e diálogo entre os ítalo-gaúchos e as instituições da Itália.
— Ser cônsul é representar um país inteiro, sua história, seus valores, suas decisões e também seus dilemas. Não escolhemos quais partes da história carregar. Os cônsules carregam todas. Se uma lei causa inquietação, cabe a nós representar o estado com lealdade, e ao mesmo tempo manter vivo o diálogo com a comunidade — discursou Caruso.
Ele fez menção à frustração que as medidas trouxeram e à forma como os governantes italianos encaram a população de descendentes que vivem no exterior. O cônsul apontou ações da Itália no RS, como o investimento de 4 milhões de euros em uma nova sede do Consulado, como prova do reconhecimento à comunidade. Além disso, afirmou que é impossível não reconhecer que a herança trazida pelos imigrantes segue muito presente no RS:
— Ser italiano não é apenas ter um documento. É pertencimento, é carregar uma língua, uma estética, uma memória e um futuro. E é por isso que os descendentes de italianos não são apenas gaúchos com um aporte europeu no bolso. São italianos que vivem no RS, com seu sotaque, sua história e suas raízes profundas.
No dia 20 de maio, ironicamente o dia em que se celebrava os 150 Anos da Imigração Italiana no RS, o plenário do Senado aprovou o Decreto 36/2025, criado pelo governo da primeira-ministra Giorgia Meloni. A proposta alterou os critérios da cidadania jure sanguinis (direito de sangue) e limitou este direito a apenas filhos e netos de pessoas já reconhecidas. Além disso, é preciso que um desses ascendentes não tenha tido outra cidadania, que não a italiana, até o fim da vida.
Depois que as mudanças na lei foram aprovadas, o Consulado Geral da Itália no RS postou nas redes sociais um comunicado dizendo que aguardava receber do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional as orientações sobre a aplicação das novas disposições. Até agora não houve novas atualizações nos canais oficiais.