
Disse Pepe Mujica: “Não compramos coisas com dinheiro, e sim com o tempo de vida que gastamos para ter esse dinheiro”. Aplaudimos, reproduzimos a frase nas redes sociais, contabilizamos os likes e, no minuto seguinte, esquecemos: a morte é um assunto que morre rápido. Faz quase duas semanas que Mujica se foi e já voltamos à pobreza que nos cerca (bebês reborn, influenciadores de bets, tapetes vermelhos), sem perceber que o oposto da pobreza é a simplicidade.
Você gosta de dinheiro? Eu adoro. Mas, por ele, não troco meu tempo para o ócio, para o amor, para a música, para os amigos, para dormir. Quanto vale seu tempo, em reais? Há pessoas que am fome e não têm como pagar aluguel, para elas dinheiro é tudo, óbvio. Mas falo sobre quem está com as necessidades básicas atendidas, e as supérfluas também, e ainda vende sua calma e sua alma, a fim de comprar mais coisas para exibir aos outros.
Rico é o país em que prefeitos vão para o trabalho de bicicleta e governadores andam de metrô. Atravessar cinco quarteirões em carro com motorista, segurança e batedores? Pobre. Soube de um cantor de rock hospedado em um hotel situado em frente ao teatro onde se apresentaria (40 metros a pé) que exigiu transporte blindado. Coitado.
Sei que não se deve mais criticar mulheres, mas permita um toque de amiga: leves intervenções, tudo bem, mas repuxar violentamente o rosto para aparentar uma juventude que não voltará? Envelhecer é chato, mas o bom humor converte rugas em história, e a autenticidade sempre ganhou de 10 x 0 do desespero. Nenhuma pessoa fica bela quando tenta reverter na marra o seu destino.
Ser chique é ser simples. iro a extravagância como ato político ou artístico, mas a vaidade transbordante pode nos reduzir, em vez de nos projetar. Rendidos pelo status e poder, nos tornamos miseráveis.
Por dinheiro, o mundo está em guerra, um vexame histórico, como explicar às futuras gerações? Por dinheiro, o planeta arde, o ar se torna irrespirável, animais entram em extinção, ingerimos micropartículas de plástico. Por dinheiro, nos endividamos para manter as aparências diante de quem nem conhecemos.
Por dinheiro, pagamos mico nas redes sociais, fazendo de conta que estamos felizes com aquilo que nos adoece. Por dinheiro, fingimos amar. Para ter dinheiro, gastamos dinheiro – estratégia defendida pelo mercado. Odete Roitman ou de vilã a heroína. O fascínio pela opulência está desnudando o nosso vazio.
Ninguém precisa morar em sítio e andar de Fusca, somos filhos do capitalismo, mas que mantenhamos a mente sã: de vez em quando, que a gente se deite numa rede em algum lugar silencioso, preserve o bom coração e lembre que luxo é basicamente isso.