Guardo muitos livros em casa, uma pequena biblioteca de milhares. Metade ainda espera minha leitura e a outra metade já foi devorada, mas ainda assim a mantenho, já que acontece comigo algo desesperador: não lembro o que leio. Nada. Qual era o nome do personagem, qual a trama, como é que ela termina. Nada.
Há quem recite trechos de seus autores preferidos, quem reconheça agens de obras lidas anos atrás e quem declame poemas alheios como se fossem seus. Não lembro nem meus próprios versos, o que dirá os versos dos outros. Amo os livros e tenho com eles uma relação doentia. Doença neurodegenerativa: o sentimento fica, a lembrança vaza.