
Um dos homens mais sábios da Grécia era um mendigo. E dormia num barril. Quando o rei Alexandre, o Grande, soube da história, quis conhecer o pensador maltrapilho — se ele fosse assim tão sabido, talvez pudesse servir ao império. Diógenes era o nome dele.
Sua filosofia pregava que tudo o que é natural não pode estar errado. Ele usava essa premissa para peidar, urinar e se masturbar em público, mas isso nunca o impediu de ser irado. Muita gente respeitava sua postura contestadora, sempre denunciando as convenções sociais e a forma como o homem complicava "os mais simples presentes dos deuses". O casamento, dizia Diógenes, era uma forma de complicar o presente natural do sexo.
Ideias doidas para a Grécia da época — e ainda doidas para o mundo moralista de hoje —, mas movidas por um ideal libertador: o velho insistia que, para alcançar a felicidade, ninguém precisaria depender de qualquer coisa externa à própria existência. Bastaria usufruir dos "presentes naturais" e se livrar das imposições de uma sociedade que mais reprime do que acolhe. Praticamente um hippie, só que 24 séculos antes dos hippies.
Eu aqui, embora isso pouco importe, não concordo com Diógenes: tratar pobreza como virtude pode abrir espaço para que a injustiça pareça aceitável. E é claro que grande parte do povo também discordava dele. A questão é que poucos se recusavam a ouvi-lo: pelo contrário, queriam saber o que ele tinha a dizer simplesmente porque ele tinha, de fato, algo a dizer. Mesmo sendo um velho peidorreiro.
O rei Alexandre, então, foi até o vão de uma escadaria, onde o sábio molambo tomava sol em frente ao barril.
— Que queres que faça por ti? — perguntou Alexandre, em pé, mirando o homem no chão.
O problema é que o rei se metera bem na frente do sol. Diógenes franziu a testa com a sombra incômoda; sujeito inconveniente, esse rei.
— Quero que não me tires o que não podes dar! — e fez sinal para o monarca sumir.
O povo gritou "oh!", um guarda já sacou a espada, mas Alexandre conteve a tropa enquanto Diógenes bocejava.
— Só não me tires o que não podes dar... — repetia o rei em voz baixa, depois de se despedir.
Diógenes se referia à luz do sol? Ou à própria forma de enxergar o mundo? Porque, se fosse obrigado a servir ao império, mudaria seu jeito de se relacionar com o mundo. O rei refletiu, então, sobre o que aquele homem pensava da existência — talvez nem tenha concordado, mas conseguiu escutá-lo. E por isso saiu dali um pouco maior.