O prazer de se irritar com uma idiotice qualquer
Por que ninguém mais bate a
O Sant'Ana, o ciúme e a grande frase

Fico pensando que lugar seria mais adequado para se beijar em público do que uma festa. Um templo budista? A vendinha da esquina? Um disco voador? Eu, particularmente, vocês me perdoem, mas, em festas, aprecio beijar na boca. Por isso, às vezes, reflito sobre como seria minha vida se eu fosse gay.

Porque aqui está um homem, digamos, afetivo: com a minha namorada, ando abraçado para lá e para cá e, quando a gente se senta – parece automático –, repouso logo a mão sobre a perna dela, sem falar que nunca recuso um beijo, embora, claro, jamais enfiaria minha língua entre os dentes da coitada no meio de um restaurante, porque tem lugar para tudo, a gente sabe, mas em uma festa de formatura, na penumbra do salão lotado, com gente dançando e música tocando, aí seria diferente, aí eu enfiaria minha língua, sim, enfiaria com sofreguidão e volúpia, com os olhos fechados e o coração agitado, enfiaria meu linguão viscoso daquele jeito que, enfim, para mim é importante externar meu afeto.

Portanto, se eu fosse gay, me deprimiria. Por Deus, só me restaria a depressão se um beijo na festa, se um caminhar de mãos dadas, se uma carícia na perna, se tudo fosse questionado com o argumento do "respeitar para ser respeitado". Que sentido faria minha vida se me impedissem de manifestar afeto pela pessoa que eu amo? E que espécie de respeito é esse que a sociedade me cobraria enquanto esmagasse meu espaço e esmagasse meus direitos? Tolher minha necessidade de receber e dar amor, desde quando isso é respeito?

Não pode, em uma sociedade civilizada, alguém dizer que um carinho é faltar com respeito. Pode dizer isso na selva ou no deserto, bem longe da vida em comunidade, porque, vamos combinar, tem lugar para tudo.

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