Em uma iniciativa oportuna e sintomática, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) promoveu na terça-feira à noite, em Brasília, um encontro com a bancada gaúcha na Câmara e no Senado. A reunião teve o propósito de tratar da agenda prioritária para o setor no Congresso e reforçar a importância de os parlamentares, de distintas siglas e visões ideológicas, compreenderem que há temas em que precisam esquecer as diferenças e trabalhar de forma conjunta.
O jantar, que reuniu outras autoridades, como o governador Eduardo Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, é tempestivo pelo momento decisivo atravessado pelo RS após a enchente de maio do ano ado e em meio a outras dificuldades causadas pelo clima. Talvez em nenhum outro momento da história do Estado tenha sido tão necessário que as forças políticas locais se unam em torno dos interesses regionais.
Predomina a percepção de que as divergências políticas impedem uma atuação mais coordenada da bancada gaúcha
Mas a necessidade de realizar o encontro também é reveladora quanto ao juízo sobre a atuação dos deputados e senadores gaúchos. Ainda predomina a percepção de que as divergências políticas impedem uma atuação mais coordenada da bancada na defesa de pautas consensuais e que podem fazer a diferença para o desenvolvimento do Estado.
No encontro de terça-feira, compareceram 24 dos 34 parlamentares – um total de 31 deputados federais e três senadores. A prioridade apresentada pela Fiergs é a criação de um fundo constitucional para a Região Sul, como os com que contam os Estados do Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
Fundos constitucionais são essenciais para possibilitar investimentos produtivos e condições mais competitivas de financiamento. O Estado tem perdido projetos na área de energia para outras regiões, por exemplo, por não dispor desse instrumento. É direito do RS pleitear condições iguais para disputar empreendimentos com outras unidades da federação. Inexiste motivo para não ser uma pauta para a bancada cerrar fileiras. A mobilização deve ser pela aprovação da PEC 27/2023, que prevê a criação de fundos constitucionais para o Sul e o Sudeste. Tramita na Câmara e, no ano ado, teve parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O êxito na empreitada depende ainda da capacidade de assegurar o engajamento das demais bancadas das duas regiões.
O RS tem deputados e senadores de diferentes linhas políticas que também fazem o enfrentamento eleitoral interno. É próprio do parlamento representar as diferentes correntes de pensamento existentes na sociedade. Mas é essencial ter o discernimento de que há causas que são do interesse do Estado e devem estar acima das desavenças ideológicas. É o que sabem fazer bem as bancadas do Norte e do Nordeste. Com pragmatismo, sabem se unir quando necessário para extrair vantagens para as suas regiões.
As pautas apresentadas pela Fiergs são apenas um exemplo. Talvez em parte não seja possível garantir unanimidade. Mas, da mesma forma que o tema do fundo constitucional, há demandas sobre educação, saúde e segurança que podem ser matéria de consenso. Ganha toda a sociedade gaúcha se existir esse esforço. Perde se as diferenças preponderarem.