Bernardo Boldrini é velado em ginásio de colégio em Três os. Carlos Macedo / Agencia RBS
Órfão de mãe, o garoto se queixava de abandono familiar. Bernardo chegou a procurar o Judiciário no início de 2014 para falar do assunto, pedindo para morar com outra família, segundo o Ministério Público.
O atestado de óbito diz que a morte do menino ocorreu no dia 4 de abril de "forma violenta", segundo a família materna. O documento não apontou a causa da morte, mas o texto diz que teria sido de forma violenta e que o corpo estava "em adiantado estado de putrefação".
A avó materna, Jussara Uglione, disse que a criança era maltratada pela madrasta.
— Ela não deixava ele entrar em casa enquanto o pai não chegasse — afirmou.
Já uma ex-babá do menino afirmou que ele recebia pouca atenção do pai e da madrasta.
— Ela sempre afastava o menino dela. Agredia com palavras — disse.
A Polícia Civil prendeu o irmão de Edelvania, Evandro Wirganovicz, suspeito de participação ou ocultação de cadáver no caso. A Justiça considerou que o terreno onde o corpo de Bernardo foi encontrado era de difícil escavação, o que poderia indicar a participação de um homem, além de Edelvania e da madrasta.
O pai, a madrasta e a amiga foram denunciados por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima). Eles também foram acusados de ocultação de cadáver.
— Leandro Boldrini, Graciele Ugolini e Edelvânia Wirganovicz mataram Bernardo Uglione Boldrini. Leandro foi o mentor intelectual desse crime. Ele tinha o domínio do fato. A decisão da morte do filho foi dele. A prova existe — disse a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira.
O juiz Marcos Luís Agostini recebeu a denúncia oferecida pelo Ministério Público (MP) contra os quatro acusados pelo envolvimento na morte de Bernardo.
Mais de um ano depois do crime, os quatro réus foram interrogados pela primeira vez na Justiça. Recebido no fórum com gritos de "assassino" por manifestantes e vestindo um colete à prova de balas, Leandro Boldrini negou participação no episódio. Irmão da amiga do casal, Evandro também negou envolvimento no caso. Já a madrasta, Graciele, e a amiga, Edelvânia, ficaram caladas.
Os quatro acusados de participar da morte de Bernardo foram pronunciados pela Justiça. Com isso, um júri composto por pessoas da comunidade iria decidir a sentença de cada um.
O julgamento dos acusados foi iniciado em Três os. No lado de fora e na casa onde Bernardo vivia, manifestantes pediam justiça no caso.
Após cinco dias e 50 horas de julgamento, o júri decidiu pela condenação dos quatro réus. Graciele Ugulini, a madrasta, recebeu pena de 34 anos e sete meses de prisão. Leandro Boldrini, o pai, foi condenado a 33 anos e oito meses de cadeia.
Edelvânia Wirganovicz, a amiga, foi condenada a 22 anos e 10 meses de prisão. Enquanto o irmão dela, Evandro Wirganovicz, foi sentenciado a nove anos e seis meses em regime semiaberto.
O 1º Grupo Criminal do Tribunal de Justiça decidiu pela anulação do julgamento de Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo. O relator do caso disse que "houve quebra da paridade de armas" na conduta do promotor de justiça durante o interrogatório do réu no júri.
Leandro Boldrini foi submetido a um novo julgamento no Foro da Comarca de Três os. O réu não foi interrogado por razões médicas, que não foram informadas. O acusado chegou ao fórum agitado, conduzido por policiais, dizendo "para, para" ao ar pela área onde estava a imprensa.
Leandro Boldrini foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão. O pai de Bernardo foi responsabilizado pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e por falsidade ideológica. Ele foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul manteve a validade do júri que condenou o médico Leandro Boldrini. O relator dos recursos, desembargador Rinez da Trindade, negou tanto o pedido da defesa de Boldrini, que pedia a anulação do júri, quanto o pedido do Ministério Público, que buscava a ampliação da pena do médico.