Gislaine com o sobrinho Alexandre, em maio do ano ado, quando a água tomou conta da casa no Navegantes.

Diante das paredes inchadas de umidade e mofo e do piso de madeira coberto por limo, Gislaine pensou que não seria mais possível seguir morando no local. O marido chegou a sugerir demolir o prédio ou transformar em espaço comercial. Gislaine titubeou, mas decidiu ficar.

Com a ajuda de amigos e parentes e munida de dois lava-jatos, a aposentada ou seis dias limpando peça por peça. Perdeu todos os móveis, inclusive cristaleiras antigas que estavam na família havia décadas. Dos eletrodomésticos, apenas a geladeira e a máquina de lavar voltaram a funcionar. Com R$ 30 mil que tinha em economias e os R$ 5,1 mil pagos pelo governo federal, ela comprou móveis novos e reformou os cômodos. 

Foi um mês com a casa inundada, dois meses reformando e mais 30 dias pintando até o final de setembro, quando finalmente voltou a habitar o número 430 da Presidente Roosevelt.

Eu me sinto vitoriosa. Consegui voltar para minha casa. Muita gente não conseguiu. E isso aqui era dos meus avós, meu avô que botou tijolo por tijolo. Então eu me sinto feliz, embora não saia da janela quando começa a chover.

GISLAINE HUFF

Aposentada

Fábrica reerguida, negócio mais forte do que nunca

André Ávila / Agencia RBS
Jeison Scheid remontou a fábrica de alfajores inundada, aumentou produção, número de funcionários e faturamento.

Jeison Scheid tinha 25 anos em 2013 e um dilema típico da juventude: como arranjar dinheiro para se manter surfando o verão inteiro em Santa Catarina? A primeira ideia lhe pareceu genial: fazer alfajor e vender para os argentinos que lotam as praias do Estado vizinho. Começou cozinhando 80 doces por dia, mas esbarrou na desconfiança dos turistas diante do brasileiro que dizia produzir o mais tradicional doce hermano.

De volta a Porto Alegre, ele insistiu no negócio e após alguns meses vendendo alfajor de bicicleta na Cidade Baixa começou a fabricação industrial da sobremesa, num espaço de 80 metros quadrados da Avenida Protásio Alves. Nascia a primeira fábrica da Alfajores Odara. Em 10 anos de atividade, a empresa cresceu e ou a ocupar 5 mil metros quadrados no Sarandi, zona norte da Capital. Em maio de 2024,  Jeison tinha 50 funcionários e faturava R$ 18 milhões por ano.

— A gente estava em expansão, previa crescer 40% só em 2024. Só que atrás da fábrica corria o dique do Rio Gravataí. Fizemos uma barricada com sacos de areia e fechamos os galpões, mas não adiantou — recorda o empresário.

A correnteza que varreu o Sarandi atingiu 2m20cm na linha de produção, destruindo máquinas, estoque e matéria-prima. Com R$ 3 milhões de prejuízo, a Odara levou dois meses para voltar a operar. Nesse período, funcionários limparam o prédio, gestores aram linhas de crédito e 3.289 clientes aderiram a uma campanha de pré-venda, pagando por um produto que só seria entregue após a retomada das atividades.

Em julho, quando o maquinário foi religado, as encomendas aumentaram e a empresa fechou 2024 com faturamento de R$ 23 milhões, 19% superior ao ano anterior. ado um ano da enchente, a Odara tem 65 funcionários, produz 10 mil alfajores por hora e chega a 12 mil pontos de venda Brasil afora.

— Devemos crescer mais 60% em 2025 e vamos lançar mais dois novos alfajores, ando de sete sabores para nove — exalta Jeison.

A enchente foi terrível, mas teve muita união na equipe. Teve funcionária que trouxe o marido para ajudar na limpeza e hoje os dois trabalham aqui. Quando a gente terminou de arrumar a primeira sala, sabia que ia conseguir recomeçar.

JEISON SCHEID

Dono da Alfajores Odara


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