
Todos os dias, quando a cuidadora Caroline Machado, 18 anos, entra na casa de dona Nair Girardi Guasselli, 82, é recebida com um sorriso no rosto e muitas histórias para ouvir. Mais do que uma rotina de cuidados, o vínculo entre as duas se fortalece dia após dia. A relação, que já a dos seis meses, revela a importância da empatia, da escuta e da presença constante na vida de quem envelhece. Em meio aos desafios do diagnóstico de demência e Doença de Parkinson, a convivência diária se transforma em uma profunda troca, no qual o cuidado vai além do físico e alcança o emocional.
Contratada pela ACG Home Care, rede de cuidados atuante em todo o Brasil, Carolina conta que iniciou a profissão com um estágio em um lar de idosos e que, desde então, se apaixonou pela profissão. A chegada na casa de Nair foi tranquila, já que as duas se deram bem logo de início. Em meio às conversas cotidianas e aos cuidados, a cuidadora sente que desenvolveu uma ligação emocional, como uma neta com a avó.
— Vai além da técnica. Precisa saber lidar e ter cuidado com eles, desde a hora de tirar da cama até fazer uma comida que ela gosta. Ela sempre me pede para cozinhar algo que goste. O que mais me cativa na profissão é o amor que a gente sente por eles e também por poder cuidar nesse momento tão essencial, que é a velhice — diz Caroline.

O vínculo emocional das duas também acaba sendo ado para os familiares de Nair. Com mais dois irmãos, a filha Idanira Della Giustina conta que a presença de Caroline na casa lhe traz confiança. Em um grupo no WhatsApp é colocado tudo que ocorre no dia a dia. Além do trabalho, ela procura manter uma relação de amizade com a cuidadora, que convive todos os dias com a família.
— A mãe tem a Carol como neta. Ela cuida da Carol. Ela estava me dizendo, agora, pega um remédio para ela, que essa menina vai ficar gripada. Ela gosta muito dela — conta Idanira.
Conexão entre cuidadores e famílias
Entre altos e baixos no processo de busca por cuidadores, Idanira chegou até a ACG Home Care. Em Caxias do Sul, a franquia é coordenada pela enfermeira Camila Catarina Vaccari e pelo de empresas André Luís Bridi, que fundaram a empresa em 2021 com o objetivo de proporcionar o bem-estar familiar de cada paciente.
Respeito, cuidado humanizado e ética profissional são os valores da empresa, que também fornece treinamento para os profissionais que pretendem se tornar cuidadores de idosos. O ensino começa desde a parte técnica até entender como funciona a rotina do paciente.

— Nós damos treinamento, ensinamos. Antes do cuidador assumir o paciente na casa, marcamos um dia e ele vai até lá para entender a rotina e as funções que ele vai precisar desenvolver — comenta Camila.
Antes da contratação, a empresa realiza uma entrevista com os candidatos para ver se o perfil se adequa ao solicitado pelos familiares do paciente. Hoje, a equipe é composta por cuidador, técnico de enfermagem, médico, fisioterapeuta, terapia ocupacional, fonoaudióloga, nutricionista, psicóloga e enfermeiro. Os planos de cuidados mudam conforme a necessidade de cada paciente.
Para Camila, o mercado triplicou depois da pandemia, já que o número de idosos aumenta a cada dia. Como a maioria não têm filhos, eles procuram manter a qualidade de vida em casa. Dentre os públicos que necessitam dos serviços há os que procuram somente um acompanhante, desde conversas até companhia para o mercado, até os que são totalmente dependentes de cuidados.
— Sempre há uma troca com a família. Realizamos reuniões com a equipe de profissionais, avaliando os aspectos positivos e negativos, falo o que precisa ser melhorado e levo para a família quais questões devem melhorar para ocorrer um bom andamento nos cuidados — diz Camila.
Vínculo traz benefícios e desafios
A psicóloga Aline da Rosa explica que, apesar de existir o vínculo emocional e a identificação com o paciente, o profissional precisa estar ciente que ainda é o espaço de trabalho, que não pode ocorrer um apego emocional, no qual acabe transferindo sentimentos ou emoções para o idoso.

— É importante que o idoso confie no cuidador, se identifique com ele, que exista uma relação e uma conexão. Mas também é importante que esse vínculo seja entendido como um vínculo de trabalho — comenta Aline.
Outro ponto abordado pela psicóloga é o cuidado com o profissional, que tem cargas horárias longas e precisa trabalhar de madrugada e estar dentro de uma família que não é a sua. Isso pode vir a gerar um adoecimento do cuidador. É importante entender que o cuidador também precisa de cuidados dentro da profissão.
Mas ela ressalta que ainda é importante que exista uma relação de identificação, uma amizade genuína, que possa vir a ajudar com os cuidados, mas sempre mantendo os limites dentro do contexto profissional.