
Diante de uma plateia em sua grande maioria empresarial, que lotou o UCS Teatro, o filósofo e escritor Clóvis de Barros Filho apresentou, na tarde desta quinta-feira (22), a palestra "A Vida Que Vale a Pena Ser Vivida". A atividade marcou o encerramento da programação do 5° Simecs Transforma, em Caxias do Sul.
Um dos pensadores mais respeitados do país, e também um dos mais populares – sendo expoente da mesma geração de nomes que ajudaram a dar um verniz pop a conceitos filosóficos mais densos, como Leandro Karnal, Mário Sérgio Cortella e Luiz Felipe Pondé –, Barros falou sobre a importância de valores como excelência, autoestima e autoconfiança para construir uma vida realizada, e como esta busca a por equilibrar vida pessoal e trabalho.
– Se você estabelece o equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional como numa balança, você está sugerindo que o profissional deixou de ser uma pessoa. É importante lembrar que todos os valores da vida são os mesmos onde quer que ela esteja sendo vivida, não importa se no trabalho ou fora dele. Não se trata de trabalhar 40 horas como se este fosse o pedágio a se pagar para ter direito a uma happy hour ou a um fim de semana na praia. O trabalho deve ser parte de uma vida boa, principalmente por ser a parte a qual dedicamos o nosso maior tempo de vida – provocou o filósofo, que convive há dois anos com a Doença de Behçet, condição autoimune que ataca diversos órgãos do corpo.
A plateia riu e se emocionou diante da habilidade do filósofo e professor ao recordar sua infância e os aprendizados que teve com a mãe, mais protetora, e com o pai, que sempre demonstrou ser mais desconfiado quanto a suas habilidades, mas foi o responsável por fazê-lo sair sempre da sua zona de conforto. Barros exemplificou que, quando estava aprendendo a caminhar, foi sua mãe quem confiou que ele poderia andar sem cair. Quando estava aprendendo a andar de bicicleta, foi o pai quem percebeu que só ele estava pedalando e disse ao filho para que deixasse de ser preguiçoso e pedalasse também.

– Ninguém nasce autoconfiante. A confiança surge sempre do outro em relação a nós, sendo então autoconfiança uma certeza sobre o mundo sem que o mundo esteja ali para eu verificar. É uma certeza que eu carrego sem verificação possível ou necessária – disse.
Ao contrário da confiança, a autoestima é, segundo o pensador, sempre uma alegria que tem como causa um atributo de si mesmo. Ela cresce sempre que o indivíduo alcança um estágio maior dentro da própria potência que carrega. Daí a importância para, remetendo ao tema da palestra, procurar sempre ser a sua melhor versão para ter mais autoestima e, consequentemente, ser mais realizado:
– Se você sabe que pode fazer melhor e não faz, ou a a vida se dando nota 3,5 a tudo o que faz e se reprovando; ou você esquece de se avaliar e deixa pra lá, e então vai acabar perdendo o hábito de conviver consigo mesmo e a depender mais do mundo pra preencher os teus vazios. Ou seja: você não gosta muito de estar consigo próprio, então vai achar que precisa de um tablet novo para te distrair. Há uma diferença entre se distrair de si mesmo ou se distrair consigo mesmo. Ter um pouco de apreço por si mesmo torna a vida melhor, e isso não é arrogância. É alegria. Mas isso vai exigir um mínimo de compromisso com a excelência.