Uns chamam de tênis de mesa. Acho enfadonho. Prefiro ping pong. É prosaico. Banal como deveria ser jogar a bolinha pra cá e pra lá. Um sonoro toma lá dá cá.
Dois por fora e logo vira caixa-dois. Na política também rola muita troca de bola. Ping. Pong. E quando se vê, inimigos mortais, de bandeiras antagônicas, apertam as mãos e posam pra foto sorrindo como velhos amigos de guerra.
Ping. Pong. Vem ver. Mais uma partida com rolo nas apostas. Maldito jogo de azar. Toma lá dá cá. Dizem, só perna de pau cai nessa. Dia desses caiu também “craque” de seleção. E no final, campeonatos vêm e vão, todo mundo sorri pra foto e cai nos braços da galera.
Ping. Pong. Ali, no mercado paralelo, bem conversadinho... Toma lá... Dá cá... Noves fora, com dinheiro empilhado, sai atestado? Sai. Dá pra sair do fim da fila e cair na sala de cirurgia? Claro que sim. E dois pacotes daquele remédio, sem receita, sem nota, sem despesa? Ping. Pong.
Reza a lenda, numa terra distante, onde nenhum mal alcança, onde a piada já nasce pronta, onde a vida corre solta, dá pra construir casa com vista privilegiada, longe de vizinho curioso. “Toma lá, senhor!”, diz o Cidadão 1. Ao que o Cidadão 2, muito gentil, responde: “Dá cá, querido!”. E dê-lhe foto na varanda pra postar e faturar.
Nada contra quem ganha dinheiro nessa troca de bolinhas, que resulta até em medalha olímpica, mas a vida em solo Brasil varonil — ou em qualquer outra pátria à escolha do freguês — é uma entediante troca de favores. Pingou cascalho, entrou em cena o faz-me-rir, é festa sem hora pra acabar.
Tem bolo? Tem, sim, senhor! Pizza? Ah, essa não pode faltar, mermão. Se precisar a gente descola até pizza pra vegano. Gargalhada pra cá e pra lá. Ping. Pong. E a bolinha ali, sendo lançada de um lado ao outro, só vendo o jogo ar. Jogo com pinta de samba-enredo tragicômico.
Comédia à moda brasilis. Ora mais, ora menos trágica. Pelo menos desde a invasão portuguesa, lá nos idos de 500. Terra onde se plantando tudo dá. E quando não dá mais é só escavar que se encontram preciosidades de valor inestimável. Pesou já virou cifrão. Ninguém viu. E se vier ver, toma lá, noves fora, dá cá. Só não tiram foto pra não acabar o ping pong.
Não tem verba. Fechou a torneira. “Medidas austeras, mas necessárias”, noticia a imprensa. Não temos fiado, volte amanhã. Ping. Pong. Opa, doutor, entra aí. Quantos são? Opa, claro. Sai mais dois cargos. Embala bem que é de confiança. A gorjeta é serventia da casa. E hoje à noite? O que é que tem? Pôquer lá em casa? Topo, e qual a senha? Ping pong. Melhor do que tênis de mesa, né? Enfadonho pra c*. Gargalhadas pra cá e pra lá. E sem roubar, heim? Ué, mas o blefe e o roubo não fazem parte do jogo? Gargalhadas pra cá e pra lá.
Tão prosaico como o ping pong ou enfadonho como tênis de mesa, né?