Uma das questões que tem me preocupado em meu trabalho como filósofo e palestrante é sinalizar para líderes e gestores o fato de não bastar ser o comandante de equipes com alta performance. É imprescindível observar aspectos comportamentais como saúde emocional e felicidade. Caso contrário, eles estarão fadados a gerir grupos preocupados em mostrar eficiência técnica, nada mais. Terão falhado em um dos pressupostos fundamentais da existência humana: o de ver com atenção os elos que nos constroem como seres dotados de subjetividade. Ao procurar apenas a qualificação profissional, deixam de perceber o quanto nos sentimos estimulados ao sermos vistos na totalidade – corpo e espírito – não como um mero número dentro de uma cadeia qualquer. Nossa realidade atual trai uma certeza básica: pessoas contentes fazem entregas melhores. A necessidade de atualização constante, o renovado estímulo para cada um se esforçar até deparar-se com a exaustão (alguns caem mortos, literalmente), tem nos transformados em criaturas inábeis em usufruir de seus momentos de descanso, em estado de permanente esgotamento. Pouco dormem, pois não são capazes de desligar de sua rotina.
Tenho a nítida impressão de que estamos esquecendo de nos fazer uma pergunta essencial: para que serve isso? Qual a intenção dessa busca incessante? Exigimos de nós um nível de satisfação absurdamente elevado, como se fôssemos máquinas programadas para aumentar o rendimento até o seu limite máximo. Podemos fazê-lo, sem dúvida. Porém, o resultado será o adoecimento mental e a sensação de seu empenho sempre ser insuficiente. Manter um grau razoável de ambição é louvável, mas quando perdemos o propósito maior, estaremos fadados a desconsiderar um dos princípios mais elementares: o de usufruir com tranquilidade as conquistas obtidas através da dedicação e do conhecimento.
Há os que começam a sonhar com sua aposentadoria vários anos antes dela surgir no horizonte. Vivem em contagem regressiva, visando recuperar tanto desperdício de vida. Em qualquer âmbito, jamais desejei ser o primeiro da classe. Deixei para os fanáticos por elogios e iração tal tarefa. A mim basta ter sido capaz de extrair dos dias pequenas porções de contentamento. Tudo o mais é vaidade, pecado capital a ser evitado neste tempo em que são premiados os derrubadores de obstáculos, como se estivessem participando de uma eterna maratona.
Como chegaremos no final? Qual será o nosso orgulho depois da competição ter acabado? E pelo que seremos lembrados? Reflita antes de precisar tomar um ansiolítico ou antidepressivo para poder ar outro dia em meio a tamanha pressão para ser o melhor.