Semanas atrás assisti horrorizada às cenas da invasão de uma igreja durante uma missa em Curitiba. Como católica, me senti violada: um momento de prece e de comunhão foi subitamente interrompido por uma turba que desrespeitou os símbolos e o espaço sagrado de uma fé. Seja lá quais fossem as motivações dos invasores, nada justifica macular um templo, e penso o mesmo sobre terreiros de umbanda destruídos por traficantes, sinagogas depredadas por antissemitas, pichações em igrejas evangélicas: templos devem ser respeitados.
Quando soube do fechamento do Bloco H da Universidade de Caxias do Sul para reformas e suposta realocação para atividades laboratoriais do curso de Medicina, meu sentimento foi de que violaram o mais importante templo do estudo das Ciências Humanas da região. Parece bobagem, mas uma das primeiras reações que tive foi pensar no destino incerto de todos aqueles quadros de formandos do cursos de História, Geografia, Comunicação Social e Letras – incluindo minha turma de Licenciatura em Letras do ano 2000.
São rostos e nomes de alunos e professores, de reitores e de paraninfos, mensagens e datas de quem teve no Bloco H uma casa onde aprender, conviver, debater, divergir, pensar, criar. Tentei contato com a UCS para saber, afinal, o que será feito do Bloco H. Até o fechamento desta edição, não recebi qualquer informação por parte da reitoria.
Compreendo que a localização próxima ao Hospital Geral e ao ambulatório – assim como a ampliação de vagas nos cursos das áreas de saúde e no atendimento à população – pedem mudanças na infraestrutura do campus universitário. Aliás, a pandemia acelerou um processo de reestruturação das atividades de ensino como um todo e, com a adoção de aulas online, a estrutura física de muitas instituições terá que ser repensada e redirecionada. Isso é fato.
Contudo, poderiam ter tido o bom senso de ampliar os domínios das Ciências da Saúde para o Bloco L, que não se trata de um prédio com alma como o Bloco H. Gerações inteiras estudaram ali: a primeira vez em que entrei no H foi de mãos dadas com a minha mãe, acadêmica de História nos anos 1980, aluna da lendária e incomparável professora Loraine Slomp Giron. Muitos anos depois, eu mesma tive o privilégio de ser aluna da professora Loraine no mestrado, uma mulher de conhecimento ímpar, de personalidade forte, curiosa e indagadora. Até podíamos discordar sobre alguns temas relacionados à ideologia, mas sempre havia diálogo, respeito, troca de ideias.
Como me disse emocionada uma funcionária da universidade, “o Bloco H era a casa da professora Loraine Slomp Giron”. E, sem dúvida, aquele bloco sempre foi o espaço sagrado, democrático e necessário para os divergentes conviverem. Tirar as Ciências Humanas desse local é o mesmo que colocar abaixo um monumento histórico. É triste – e muito simbólico – que isso esteja acontecendo justamente com o templo que abrigava o curso de História.