
Com 1.499 habitantes, a pequena Montauri, no norte gaúcho, foi classificada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como a cidade mais católica do Brasil. O marco tem como base os dados do último Censo, quando 1.343 entrevistados, ou 98,32% da população, se identificaram como católicos.
Quem circula pelo município entende o número: a fé cristã está presente em toda parte, do pórtico de entrada às casas. É o caso da aposentada Ermelinda Toffoli, que tem imagens de santos dentro e fora da residência. Na varanda, uma estátua de Nossa Senhora das Graças lembra a vitória de um câncer.
— Ela cuida de nós. Quando eu saio, sempre digo: "Nossa Senhora, me cuida para eu não cair e da casa, também". Deixo a casa aberta e nunca aconteceu nada — conta.
A estátua da dona Ermelinda é um resumo de uma vida de fé e dedicação à Igreja Católica.
— Nasci aqui e desde criança ia ajudar a limpar a igreja. Já estou com 80 anos e sigo limpando, arrumando... Se precisar, vou abrir e vou fechar (a igreja) todos os dias — disse a idosa.
O relato se repete na maioria das outras casas de Montauri. Um exemplo é o técnico em agropecuária, Antônio Meneguzzi, que tem as primeiras lembranças da infância atreladas à religião:
— Eu lembro dos meus pais e avós indo para igreja e a gente deu continuidade a isso. A fé que eles nos transmitiram levamos adiante e tentamos transmitir para outras pessoas da nossa família. Tentamos trazer sempre para a Igreja, para o catolicismo.
Aos 81 anos, o agricultor Edvidio Santo Canossa lembra com emoção dos quilômetros que percorria quando criança para frequentar a igreja. À época, Montauri ainda era distrito de Guaporé. Depois, ou para Serafina Corrêa e só se tornou município em 1988.
— Aos domingos, íamos para a missa de cavalo. A família era grande, então não tinha cavalo para todos. No sábado à noite, o pai dizia: "olha que você vai a pé para a missa" (risos). No fim sorteava: cada filho ia caminhando em um domingo — recorda.
A devoção de Edvidio foi ada para a filha, Marilda, que também é agricultora e já foi catequista. Hoje ensina sobre a fé para o filho Mateus, de seis anos.
— Aqui na nossa família, a fé está presente em todos os momentos, como nas orações antes e depois das refeições. Desde criança alimentamos a espiritualidade que nos fortalece — disse Marilda.
E o avô se orgulha de ver o menino rezando na missa e em casa:
— É uma coisa linda e uma alegria, porque você vê que ele está crescendo no nosso caminho.
O que explica a dominância católica em Montauri
Montauri, assim como as outras oito cidades gaúchas que estão entre as 10 mais católicas do país, tem colonização italiana. Segundo o padre Valcir Rizzardi, as famílias mantêm a religião dos anteados que chegaram na região até hoje.
— (Essa devoção é) devido à nossa cultura aqui, que prevalece a italiana. Vem desde aqueles que vieram da Itália e colonizaram por esses lados — relata o padre, que está há cinco anos em Montauri.
O prefeito Nelcir Stefenon também atribui a fé católica atual ao àquela praticada no ado:
— As primeiras colonizações italianas trouxeram a religião católica e, a partir disso, teve um vínculo muito grande aqui na nossa comunidade montauriense.
Igreja além da fé

Majoritariamente formada por descendentes de italianos, a comunidade de Montauri tem a igreja como auxiliadora da população. A orientadora educacional Renata Valiatti conta que a devoção da população de Montauri é ponto fundamental para dar força à igreja e à própria população.
— Você percebe que faz parte da rotina. A igreja, a oração... Muitos avisos são dados ainda pela sonora (da igreja). Quando alguém morre, é comunicado pela sonora. Somos um município pequeno que se organiza muito em cima da cultura e da religiosidade. Então surpreende que as pessoas ainda consigam se organizar dessa forma e manter a sua fé e oração em cima dessa comunidade cristã — explica.
Ainda segundo ela, a igreja católica tem papel fundamental na parte social de Montauri.
— As pessoas se organizam e se ajudam através da igreja quando têm uma dificuldade ou problema de saúde. E procuram também manter as coisas, a igreja, os prédios, através desse trabalho nas festas, onde são arrecadados os fundos para manter a estrutura — afirmou.
Seja na missa ou no dia a dia, a religião é parte da vida de cada morador de Montauri — eles não se veem sem o catolicismo.
— A fé representa tudo: é o que nos dá força pro dia a dia. Todos amos por dificuldades na vida e é através da fé que a gente consegue superar essas dificuldades, esses obstáculos e tocar a vida em frente — afirmou Meneguzzi.
— É o símbolo da vida: se não tem a igreja, não tem mais vida — completou Edvidio.