
Desde o início da pandemia, são inúmeras as relações - de trabalho, de amizade - que se reinventaram para poder se encaixar nas possibilidades do momento. E, é claro, os relacionamentos amorosos estão inclusos no pacote. Como ter um primeiro encontro seguro em tempos de covid-19, sem sair de casa? A tecnologia dá uma ajudinha.
Já ouviu falar em "videodate"? Apesar do nome diferente, o encontro virtual não é nada mais do que uma chamada de vídeo com o (a) pretendente. O recurso está tão em alta que o aplicativo de namoro Happn lançou, em junho, a função de videochamadas na própria plataforma para facilitar o contato.
Conversamos com três mulheres que aram pela experiência para ver o que elas acharam. De jantar temático até assistir filmes juntos pela tela compartilhada, elas driblaram a distância imposta pelo distanciamento social e seguiram a rotina de paquera online.
"Poderia ter dado muito errado se a gente não tivesse uma sintonia boa"
"Eu não conhecia a pessoa, a gente se conheceu pelo Tinder, logo no começo da pandemia, em abril. A gente ficou conversando por muito tempo. Lá por junho, a gente resolveu fazer um 'webdate'. Porque, né, não tinha como se ver presencialmente. Aí eu comentei, brincando: 'Ah, vamos ter que fazer um webdate'. E ele pilhou. Foi bem diferente. Como a gente já conversava há bastante tempo, eu fiquei muito confortável, e ele também. Foi inclusive no horário de almoço, era o horário que eu podia fazer, não tinha como ser à noite. Então, foi bem limitado nosso tempo de conversa.
Botei uma roupa como seu eu fosse sair mesmo, me maquiei e tudo mais, porque eu queria me sentir bonita
Me arrumei, sim! Botei uma roupa como seu eu fosse sair mesmo, me maquiei e tudo mais, porque queria me sentir bonita, e para mim era como se fosse um date normal, só que virtual. Depois a gente ou a fazer uns dates mais diferentes. Uma vez a gente pediu comida um para o outro, e comeu na frente do computador, esperou chegar o lanche na casa de cada um, e fizemos um date de janta. Já fizemos dates temáticos, de pedir pastel, aí cada um pedia na sua casa. A gente também assistiu a filmes.
Acho que a gente estava bem entusiasmado de fazer acontecer, por mais que tivesse esse empecilho de não poder se ver pessoalmente. A gente assistiu a vários filmes juntos, séries... E foi muito bom para a gente se conhecer. Claro, é bem diferente conversar por vídeo, por mensagem. Às vezes, o que acontecia era a internet ficar ruim, trancava... Várias vezes ficamos das 23h às 5h da manhã conversando. Eu acho que a gente teve um match mesmo assim, sabe? Poderia ter dado muito errado se a gente não tivesse uma sintonia boa. Além da predisposição dos dois, teve uma sintonia muito grande, e dedicação também de fazer acontecer. Depois, combinamos de ficar 15 dias isolados, e aí acabamos nos encontrando pessoalmente. Continuamos nos falando normal agora"
Jornalista, 26 anos
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"Às vezes simplesmente não é pra ser"
"Conheci o cara pelo Tinder na segunda semana de quarentena. Nosso primeiro 'webdate' foi meio improvisado, a gente estava falando de marcar um e meio que conversa vai, conversa vem, decidimos fazer na hora. Não tive nem tempo nem cabeça para me arrumar, só ei um pó e vi se a luz estava muito ruim. Foi meio estranho no início, porque a gente ainda não tinha visto nada além de foto um do outro, mas como a gente já estava há mais de um mês conversando diariamente por mensagem, a conversa fluiu bem, ficamos umas duas horas conversando, rindo, ouvindo música e tal.
Culpo mais a pessoa do que o 'webdate'
Marcamos de falar outro dia de novo, e daí para o 'webdate' seguinte eu me arrumei um pouco mais. Não estava de pijama, testei a luz com antecedência, ei uma maquiagem (bem básica, mas não estava de cara lavada).
Infelizmente, o segundo foi pior que o primeiro (risos). Tivemos menos assunto, e a conversa começou a morrer rápido, e percebi também umas 'red flags' para relacionamento nas coisas que ele falava e isso começou a me deixar desconfortável. A ambientação estava muito melhor que no primeiro e eu bem menos nervosa porque, que nem em um encontro físico, eu tive tempo de me preparar e arrumar, mas igual a um encontro de verdade, às vezes, simplesmente não é pra ser. Mas eu culpo mais a pessoa do que o 'webdate', porque é um conceito diferente de encontro real, mas que eu vi muita potencialidade para dar certo"
Estudante de Relações Públicas, 23 anos
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"Uma experiência que talvez eu nunca esqueça que tive, mesmo que não se desenvolva"
"A gente se conhecia, mas de vista. Nunca tínhamos nos apresentado, mas a gente se conhecia por ter os mesmos círculos de amizades, por ser uma cidade pequena e estudar na mesma universidade. A gente começou a conversar pelas redes sociais logo que iniciou a quarentena. Então a gente sempre esteve nesta situação, nunca se encontrou antes. Começou pelo Twitter, depois foi para o Instagram, trocamos algumas mensagens. Por muito tempo a gente ficou conversando por menagens, falamos muito sobre o Big Brother (risos). E aí, quando acabou, a gente meio que perdeu o assunto.
Para não não deixar de se falar todos os dias e ter um assunto, resolvemos começar a assistir filme juntos. Começamos a nos ligar e ver séries, e a partir disso se tornou tipo um momento. Normalmente era de noite, porque de dia a gente trabalha ou estuda. Eu me arrumava - não que eu colocasse uma roupa como se eu fosse para uma festa, mas uma roupa normal de encontro, mais arrumada que meu pijama. A gente bebia juntos. Eu nunca tinha tido essa experiência, até então nunca fui uma pessoa que conversa muito por redes sociais, eu sempre fui muito de conversar ao vivo. Mas como não tinha como, a gente tornou isso o mais fácil possível, dentro do que poderia neste momento.
Deixou a quarentena um pouco mais leve
ei maquiagem, mas o básico, sem exageros, não de ir para uma festa. Foi uma experiência muito boa, tanto que a gente segue fazendo isso, não tão frequentemente, mas continua, porque é um programa mesmo, assistir filme, conversar sobre a vida, beber, acho que deixou a quarentena um pouco mais leve.
Óbvio que é diferente conhecer uma pessoa por uma videochamada, as primeiras vezes foram estranhas, porque acho que nenhum de nós tinha feito isso antes , de ter um encontro na primeira vez com a pessoa por chamada. Mas depois a gente estava bem acostumados e seguimos. Foi muito legal. Óbvio que não anula o contato humano, mas acho que é uma experiência que talvez eu nunca esqueça que eu tive, mesmo que não aconteça nada futuramente, que não se desenvolva. Foi importante nesse momento que estamos vivendo, é uma interação diferente, que eu nunca tinha tido e que eu gostei"
Estudante de Arquitetura e Urbanismo, 22 anos