"Canção do disco de estreia que serve de contraponto a Panis et Circensis, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Trata de um almoço de família em que todos sentem medo, uma espécie de incômodo. Belchior faz críticas ao conservadorismo da família brasileira parecidas à canção de Caetano e Gil, mas de uma perspectiva não tropicalista. O tropicalismo tem uma certa agonia que vem junto com o gozo. Em Belchior, esse segundo elemento não está presente: há apenas melancolia, angústia."
Morre, aos 70 anos, o cantor Belchior
Relembre algumas das canções mais conhecidas de Belchior
Distante da vida pública, Belchior foi visto no Rio Grande do Sul e Uruguai
Famosos lamentam a morte de Belchior nas redes sociais
David Coimbra: Nenhum compositor me marcou mais do que Belchior
Alucinação (1976)
"Do disco homônimo de 1976, a música diz: 'E meu delírio / É a experiência / Com coisas reais'. Ou seja, a alucinação dele é bem material, concreta, ordinária. Não um salto para uma experiência etérea, mas sim um chamado para viver a vida cotidiana. Com toda a história pessoal de Belchior nos últimos anos e seu afastamento do mundo do entretenimento, a letra foi ficando mais pesada. É a canção dele de que mais gosto."
Apenas um Rapaz Latino-Americano (1976)
"Gosto desta canção por dois motivos. Primeiramente, por essa ideia de não ser ninguém, de não ter sobrenome, de ser qualquer um. É uma perspectiva diferente, pois no quadro da canção brasileira todo mundo é filho de alguém, conhece alguém. Aí vem o Belchior dizendo que é um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Outro motivo pelo qual gosto desta canção é uma característica sua: parece que está inserindo mais sílabas do que cabe em cada verso. Do ponto de vista da estrutura da canção, é um princípio de resistência, como se ele recusasse a cadência mais natural para trazer alguma tensão."
A Palo Seco (1976)
"Esta música ficou conhecida também pela interpretação dos Los Hermanos. É outra que está no disco Alucinação, de 1976. A letra tem um quê anti-imperialista: 'Um tango argentino / Me vai bem melhor que um blues'. Com os golpes de Estado em países como Argentina, Uruguai e Chile nos anos 1960 e 70, começou a se fomentar entre nós o discurso da latino-americanidade. Entre os artistas que abraçaram esta ideia, estavam Mercedes Sosa, os músicos do Clube da Esquina e Belchior, entre outros. Como se dividíssemos o destino em relação aos interesses imperialistas."