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Houve uma época, em especial nos Estados Unidos, em que a direita era libertária – não gostava que o governo se metesse na vida de quem quer que fosse. Gosto disso. Os moradores de rua, por exemplo. Alguns são meus heróis. Não item ser levados a abrigos nem nas piores noites do inverno, porque não aceitam ouvir um sermão ou cumprir horários em troca de uma sopa e de um colchão. A direita que me agrada aprovaria essa conduta.

Como aprovaria também a liberdade absoluta de gays e lésbicas para decidir o que quisessem em sua vida sexual e afetiva. Mas isso é ado: a direita de hoje adora tutelar os cidadãos e defende leis que regram o comportamento de todos segundo seus "princípios". Teria a esquerda, então, herdado o antigo espírito libertário da direita?

Que nada. A esquerda também acha que o Estado deve mandar em tudo, deve mandar na imprensa, mandar no mercado, mandar na propriedade privada, mandar inclusive no que as pessoas podem falar. Bolsonaro, um déspota truculento que hoje é o maior expoente da direita, quase foi calado por uma esquerda que queria cassar seu mandato porque ele "incitou o ódio". Ora, por favor!

Bolsonaro representa 500 mil eleitores do Rio, ele tem imunidade parlamentar e pode, sim, dizer as asneiras que quiser. Ao calar Bolsonaro, se calaria também uma fatia imensa do país – mas a esquerda prefere calá-la, e não parar para ouvi-la e compreender a raiz de qualquer problema. Hipócrita, a esquerda sempre afirma querer o bem de todos, inclusive o bem dos que ela persegue.

Sou a favor dos programas sociais da esquerda, mas contra a taxação das grandes fortunas que prega a esquerda. Sou a favor da livre concorrência da direita, mas contra o tratamento indigno aos presos que prega a direita. Sou a favor de um Estado menor – sem monopólio sobre os correios, sem monopólio sobre o petróleo –, mas sou contra qualquer Estado que fuja da responsabilidade de oferecer oportunidades idênticas a todos.

Diria que sou de centro, embora metade dos leitores que chegaram até aqui já esteja me classificando de comunista ou de coxinha. Só que essa parte, claro, diz mais sobre eles do que sobre mim.

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