Reportagem publicada nesta terça-feira (3/6) em GZH deslinda que o aumento das taxas de aprovação no Rio Grande do Sul entre 2007 e 2023 impulsionou um melhor desempenho do Estado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), encobrindo uma piora na aprendizagem ao final do Ensino Médio na rede pública. O Ideb é considerado o principal instrumento para avaliar a evolução da qualidade do Ensino Fundamental e Médio no país.
O resultado ruim em termos de assimilação de conteúdo se deu notadamente na matemática. É mais um dado a demonstrar o panorama preocupante no ensino dessa área essencial do conhecimento, com implicações para o futuro pessoal dos estudantes e para o próprio potencial de desenvolvimento econômico do Estado. Trata-se de uma fragilidade gritante dos alunos de todo o Brasil, mas que gera preocupação em especial no Rio Grande do Sul.
Ensinar melhor a matemática também contribuiria para a escolha de jovens por profissões de áreas afins nas quais o país é carente
O Ideb leva em conta os resultados de provas de matemática e língua portuguesa. No país, no período de 2007 a 2023, a evolução em matemática foi de apenas 0,4% na nota _ um índice já sofrível. Mas entre os escolares do Estado foi constatada piora de 4,6%. Em português, a nota subiu 6,4% na média nacional e 2,3% na rede gaúcha.
Matemática é mais do que uma disciplina qualquer na sala de aula. É a base para a absorção de uma ampla variedade de conhecimentos complementares ligados às ciências e à tecnologia, e não apenas ao longo da jornada escolar. Ajuda no desenvolvimento do raciocínio lógico e na solução de problemas. Também é essencial para ter cidadãos com noções básicas de educação financeira, indispensável para planejar a vida pessoal e evitar superendividamento e inadimplência.
Ensinar melhor e de forma mais atrativa e amigável a matemática, colaborando para o interesse e a compreensão dos alunos, também contribuiria para a escolha de jovens por profissões de áreas afins nas quais o país é carente, como as engenharias. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil tem cerca de 5,5 engenheiros para cada mil habitantes, enquanto em países como Alemanha, Japão e Estados Unidos a proporção é de 25. Em uma era em que tecnologia e inovação ganham maior peso econômico e a inteligência artificial (IA) já é uma revolução em curso, disseminar e incentivar o gosto pela matemática é a diferença entre ser protagonista ou retardatário na corrida global pelo desenvolvimento.
Avaliações nacionais e que cotejam vários países atestam que o Brasil tem muito a evoluir. A mais recente edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), divulgada em 2023, mostrou que sete em cada 10 alunos brasileiros de 15 anos não conseguiam resolver problemas matemáticos simples. Na média das nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), era uma incapacidade de menos de um terço. No final de abril, a ONG Todos pela Educação demonstrou que, no 9º ano do Ensino Fundamental, o percentual de alunos com aprendizado considerado adequado da matéria no país era de apenas 16%. Entre cidades com mais de 500 mil habitantes, Porto Alegre ficou no último lugar, com percentual de 5%. Prometer o progresso sem ampliar de forma significativa o domínio da matemática é uma conta que não fecha.