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Embora multifatorial, alguns aspectos ajudam a explicar a epidemia. O infectologista e coordenador do Centro de Imunizações do Hospital Moinhos de Vento, Paulo Ernesto Gewehr Filho, credita este crescimento à diminuição na falta de cuidado durante as relações sexuais:

– Muitas pessoas usavam o preservativo com medo da aids. Com os tratamentos mais novos para a doença, os pacientes não estão mais morrendo e têm uma qualidade de vida boa. Assim, as pessoas relaxaram no uso da proteção.

Receber um diagnóstico com mais rapidez também pode justificar a escalada dos números. Hoje, os postos de saúde oferecem testes rápidos, assim como o do HIV, que dão o resultado em 15 minutos. Eles têm sido cada vez mais requisitados pelos médicos.

Por outro lado, há outros fatores que aceleraram o processo. Para o ginecologista e obstetra da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Regis Kreitchmann, a falta de penicilina, o abandono do tratamento no meio e a falta do diagnóstico dos parceiros também influenciaram o aumento dos casos.

– A gente trata a paciente, mas não o parceiro. Depois de ter relações sexuais, ela se reinfecta. Também vivemos uma fase de escassez de penicilina, droga usada no tratamento – explica.

Em 2015, o Brasil enfrentou problemas para conseguir a matéria-prima para a produção do antibiótico, o que levou o Ministério da Saúde a correr atrás do produto em outros países. Esta semana, a diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das DST, Aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken, afirmou que todos os Estados brasileiros estão abastecidos com a droga até abril de 2017.

Apesar de preocupantes, os dados também podem ser interpretados de maneira positiva, tendo em vista que os casos estão sendo devidamente reconhecidos e registrados.

– Eles podem ser bons no sentido de que a gente está detectando a doença e conseguindo oferecer um serviço de saúde que faz um diagnóstico precoce. Mas ao mesmo tempo é ruim, pois estes casos estão acontecendo, o que mostra que a gente está falhando na prevenção de alguma maneira. E a prevenção da sífilis é, basicamente, a educação sexual – defende Gewehr.

No caso das gestantes, quando descoberta no pré-natal, a doença pode ser tratada, reduzindo as chances de o bebê desenvolver vários tipos de problemas e evitando o aborto – consequência não incomum nestes casos.

– Os números são preocupantes pelo risco de mortalidade de crianças e também pelo custo que isso representa, pois sobrecarrega o sistema de saúde todo com uma doença que é tratável, curável e prevenível. Uma criança que nasce com sífilis congênita fica internada minimamente dez dias em uma UTI neonatal, ocupando leitos hospitalares e, muitas vezes, com danos e sequelas – diz Kreitchmann, citando as lesões ósseas, dentárias e problemas mentais como principais resultados da doença.

Ciente do aumento nos casos, o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo, reforça a importância do uso de preservativo e da agilidade no diagnóstico para evitar a doença congênita.

– É importante o exame e o tratamento na gestante e no parceiro. Nele, aliás, ainda mais, devido ao risco de reinfecção. A mulher trata e depois se reinfecta – destaca Gabbardo.

O que é a sífilis

– É uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum.

– Na sífilis congênita, a bactéria é transmitida da mãe para o bebê durante a gestação.

Sintomas

– A doença apresenta vários estágios. No primeiro, causa feridas na região genital (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus). Isso acontece entre 20 a 90 dias após a relação sexual com a pessoa infectada. Estas lesões não coçam, não doem, não ardem e nem apresentam pus. Nas mulheres, muitas vezes a falta de sinais visíveis retarda o diagnóstico. Esses ferimentos se curam sozinhos e, depois disso, a bactéria entra na corrente sanguínea.

– Após ingressar no sangue, a Treponema pallidum provoca a chamada sífilis secundária, que começa a se manifestar depois de dois ou três meses da contaminação. Os principais sinais são lesões de pele no corpo todo, parecidas com rubéola, inclusive na área genital.

Diagnóstico

– Pode ser feito através de teste rápido, oferecido nos postos de saúde. Também pode ser feito exame laboratorial.

Tratamento

– É feito com penicilina benzatina. Se não tratada, a longo prazo, pode provocar lesões articulares, no cérebro e nos vasos cardíacos.

Prevenção

– Uso de preservativo nas relações sexuais.

Sífilis congênita

Apesar de o exame para detectar sífilis fazer parte do pré-natal, a infecção pode ocorrer após o tratamento em função de o parceiro não ter o diagnóstico. Quando não identificada e tratada, pode acarretar em aborto espontâneo, parto prematuro, complicações neurológicas e lesões ósseas e nos dentes do bebê.

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