Além disso, se uma pessoa com peso saudável perder uma porcentagem importante de peso, como 10% ou 15%, pode ficar desnutrida, alerta Gerchman.
Durante o tratamento, é recomendado realizar o acompanhamento clínico. Não há recomendações de exames específicos, apenas em casos de efeitos colaterais ou de necessidade individual do paciente, visto que as medicações são seguras, garantem os especialistas.
— Se a pessoa quer perder três quilos para ir ao casamento de alguém, tem de pensar bem se vale esse risco. Então, é uma questão com a qual temos de ter muita cautela. Essas medicações são aprovadas para uso em quem tem obesidade — frisa Gerchman, que atua ainda como professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Carolina também defende cautela na busca por essa opção. É importante que isso ocorra motivado por saúde, e não apenas por estética, abrindo mão, muitas vezes, justamente da saúde, salienta a médica.
O uso indevido (desse tipo de medicamento) nos preocupa bastante
CAROLINA LEÃES RECH
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia — Regional RS
A grande preocupação dos especialistas se dá em relação ao desenvolvimento de dependência psicológica em pacientes sem obesidade ou diabetes. Eventualmente, eles podem acabar atingindo um status corporal não realista, que não conseguiriam manter sem os medicamentos, o que faz com que cada vez mais procurem os produtos. Isso resulta em um ciclo de abuso dos medicamentos antiobesidade por quem não necessita.
— O uso indevido nos preocupa bastante. Infelizmente, ele é comprado sem receita, mas deveria ser usado com acompanhamento médico e especializado para que o paciente possa ter os melhores benefícios, com as indicações, menos efeitos colaterais, uma progressão de dose e uma adaptação do tratamento para o seu subtipo corporal também — alerta a presidente da SBEM-RS.
A endocrinologista reforça que os médicos podem indicar o tipo de intervenção mais adequada, com segurança, abordando o aspecto psicoemocional para evitar a dependência.
Os especialistas lembram que existem outras alternativas para quem deseja perder peso. Uma avaliação de mudança do estilo de vida pode ser benéfica — muitas vezes, pequenos montantes são atingidos com reestruturação e adoção de hábitos mais saudáveis, com menos alimentos ultraprocessados, lembra a professora da UFCSPA.
As canetas com soluções injetáveis levam à perda de peso, mas a recomendação médica é que sejam acompanhadas de mudanças de estilo de vida para que o tratamento seja eficaz. Carolina lembra que os estudos foram conduzidos com essa orientação aos pacientes. Além disso, o tratamento é mais amplo do que apenas o uso da medicação.
— Isso é o preconizado. Não se deve usar medicamentos isoladamente sem buscar essa questão da melhora do estilo de vida, de adoção de hábitos mais saudáveis, que vão incluir não só a questão alimentar e atividade física, mas a melhora da higiene do sono, o manejo do estresse crônico — ressalta Carolina.
Gerchman concorda:
— Tem estudos com essas medicações mostrando que quando mudanças de vida são associadas, isso potencializa o efeito da perda de peso. Esse é o cenário ideal.
Embora o uso tenha se alastrado, o medicamento não deve ser istrado indiscriminadamente, alertam os médicos. Se uma pessoa está pensando em começar, o primeiro o é procurar a avaliação de um médico endocrinologista para entender se há indicação e buscar orientações.
Há contraindicações, como no caso de grávidas e pacientes com histórico familiar de câncer medular de tireoide, neoplasia endócrina múltipla, gastroparesia e pancreatite.