Apoio da telemedicina nos postos de saúde

Para driblar as dificuldades impostas pela pandemia, a prefeitura de Porto Alegre distribuiu câmeras nas unidades de saúde para que sejam realizadas consultas a distância. Conforme a diretora-adjunta da Atenção Primária à Saúde da SMS, Diane Nascimento, o público que mais frequenta os postos são os idosos que, justamente, são orientados a ficar em casa.

— Isso acende um alerta, porque a gente sabe que as pessoas seguem tendo suas doenças normais e isso faz com seja preciso procurar outras alternativas. Nesse sentido, as unidades estão sendo incentivadas a monitorar os pacientes, ligar para ver se tem remédio, se tem medido a pressão, para fazer o monitoramento da saúde dessas pessoas — afirma.

De acordo com Rafaela Komorowski Dal Molin, a SMS está em tratativas para finalizar uma parceria com a iniciativa privada para a obtenção de 300 smartphones com recursos de vídeo e áudio que possibilitem atendimento clínico a distância aos pacientes da rede básica de saúde.

— Também estamos, em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde e o C/Can, discutindo medidas para agilizar a porta de entrada de pacientes oncológicos ou com suspeita de câncer no sistema de saúde, a fim de reduzir tempo de diagnóstico e início de tratamento. Essa discussão envolve município e Estado porque a Capital é referência para diversos tipos de câncer — explica.

Com câncer de mama e sem tratamento

Marivane Correa / Arquivo Pessoal
Marivane conseguiu o diagnóstico antes da quarentena, mas agora sofre sem saber quando poderá começar o tratamento

A desempregada Marivane Silva Correa, 42 anos, foi diagnosticada com câncer de mama no dia 15 de março. Desde lá, aguarda o início do tratamento pelo SUS. Moradora de Triunfo, ela afirma que o diagnóstico foi rápido:

— Comecei os exames em fevereiro e, em março, já tinha o resultado da biópsia. Não tenho do que me queixar do posto de saúde. O problema agora é o encaminhamento para o hospital. Há dois meses aguardo o início do tratamento.

Conforme lei federal, o paciente oncológico tem direito ao início do tratamento pelo SUS em até 60 dias. O que, no caso de Marivane, não foi cumprido.

Segundo ela, o pior é a angústia somada às dores:

_ Não sei se é psicológico ou não, mas sinto muitas dores no corpo e tenho medo de que o câncer esteja se espalhando.

Sem prazo e expectativa, Marivane conta com o apoio do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama), uma organização sem fins lucrativos que auxilia mulheres no enfrentamento ao câncer. Na pandemia, a instituição também está sofrendo com a redução no número de doações. Por conta disso, lançou uma campanha para que a sociedade gaúcha continue contribuindo para que a entidade consiga seguir com seu trabalho de dar força a mulheres.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que "em função da pandemia do coronavírus e por este ser um momento atípico, alguns prestadores precisaram fazer readequações no atendimento. A consulta da paciente está agendada para o dia 5 de junho".

"Todo nosso esforço para garantir leitos na pandemia pode desmoronar", afirma oncologista

O oncologista do Grupo OncoClínicas Stephen Stefani destaca que o represamento de diagnósticos de câncer por conta da pandemia é uma preocupação global. Para o médico, dois fatores foram determinantes para essa redução: pessoas com medo de sair de casa e agendas de procedimentos deslocadas.

— O paciente tem procurado menos seus médicos, não conseguindo calibrar o quanto que a sua saúde é protegida com o isolamento quando deixa de cuidar de outras doenças. O que mais assusta é o atraso no diagnóstico. Mas eles serão diagnosticados, o problema é que vão apresentar a doença mais adiante — diz.

Stefani defende uma política de Estado para orientar a população durante a pandemia. Isso porque, segundo ele, muitos estão perdendo seus empregos e, com isso, seus planos de saúde:

— O efeito é ainda mais complexo. O que se enxerga, no futuro prévio, é que vamos pagar um preço por isso que está sendo feito agora. Vamos pressionar o sistema e todo nosso esforço para garantir leitos para pacientes com a covid-19 pode desmoronar — alerta.

Para o especialista, o recado que precisa ser dado é que a população não pode negligenciar a saúde em nenhum momento:

— As outras doenças continuam existindo. Temos que dar o recado: as pessoas não podem deixar de se preocupar com a saúde e procurar atendimento, principalmente pacientes com doenças crônicas ou suspeitas de câncer.


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