
Casas de tijolos geminadas chamam a atenção de quem a pela praça Praça Duque de Caxias, em Galópolis, um dos bairros mais antigos de Caxias do Sul. As diferentes histórias vividas entre os cômodos de cada edificação começaram a ser contadas há mais de cem anos, quando o local, conhecido como Vila Operária, foi construído para abrigar funcionários que trabalhavam no antigo Lanifício São Pedro, atual Cooperativa Têxtil Galópolis (Cootegal). A partir do pedaço histórico que se mantém em pé até hoje, a Associação Turística Galópolis Tecendo Histórias foi fundada, em março deste ano.
Com o objetivo de atrair os olhares interessados por turismo para a região por meio da história e cultura presentes nos cenários, a associação realiza no dia 26 de outubro o primeiro eio guiado entre os pontos considerados parada obrigatória em Galópolis. A iniciativa terá eios guiados mensais (saiba mais a seguir). Além disso, uma programação cultural de Natal está prevista para ser feita ainda este ano e outros eventos culturais estão sendo elaborados pelos membros da associação e moradores locais.
A ideia de alavancar o turismo em Galópolis e ter uma associação como representante começou a ganhar força há cerca de sete anos, mas foi no dia 9 de março deste ano que o projeto saiu do papel. Assim como todo o desenvolvimento da região quando os imigrantes italianos chegaram no local, o trabalho pensado no viés turístico contou com a ajuda de muitas mãos. A associação surgiu pela união de esforços de diversas pessoas e entidades que acreditam no potencial turístico do local. Cada uma das pessoas envolvidas carrega consigo o carinho e orgulho de ter nascido e crescido na pequena região.

— Temos muito orgulho da nossa região e de vivermos aqui onde a história foi escrita, por isso queremos que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer o que a gente conhece. Normalmente falamos que somos de Galópolis e não de Caxias (risos). Transformar Galópolis em um destino turístico não é uma ideia nova, mas a colaboração que temos agora é diferente. Ninguém trabalha sozinho, a força está na união. Hoje, temos 29 associados, entre pessoas físicas e jurídicas, todos movidos pelo mesmo sonho, que é tornar Galópolis um lugar de visitação obrigatória para quem a por aqui — conta Dinara Aparecida Gabrielli, vice-diretora da associação.
Quase como uma alusão ao período de construção da Vila Operária, foi também um trabalho de tijolinho em tijolinho para que a associação ganhasse forma. Depois disso, foi a vez de encontrar um nome que representasse a importância da região para os fundadores.
— A gente trilhou esse caminho de reuniões e no final do ano ado vimos que precisávamos de um nome, mas não podia ser qualquer nome, tinha que ser um que representasse o que Galópolis é, e Galópolis existe por causa do lanifício, da tecelagem. Assim chegamos na Associação Turística Galópolis Tecendo Histórias, e nossa logomarca também foi bem pensada nesse sentido. Já imaginávamos as casinhas da Vila Operária, que hoje são o cartão-postal charmoso daqui e elas se tornaram a nossa logomarca — diz a vice-diretora.

Olhar para o futuro
Além do patrimônio arquitetônico, Galópolis oferece uma rica experiência gastronômica, com cantinas que servem pratos típicos da imigração italiana e pousadas que convidam os turistas a se alojar e desfrutar da tranquilidade local. O Café Galópolis já é considerado pelos moradores da região como ponto de referência para quem busca os famosos canudinhos da região.
O bairro não se limita ao urbano. A combinação com o ambiente rural, como vinícolas e eventos comunitários, oferece aos turistas a oportunidade de vivenciar um turismo diversificado.
— Nosso foco é mostrar que Galópolis não é apenas um lugar para ar, é também um destino para se explorar. Temos um dos cenários mais bonitos do Brasil e precisamos agora de esforço para transformar a região atrativa, além de auxílio do poder público. Mas temos uma arquitetura única, cenários naturais, prédios históricos e é triste saber que tem pessoas que moram aqui perto e não conhecem esses lugares, não conhecem as casinhas da Vila Operária, não sabem do lanifício daqui. Então, temos história, produtos turísticos e queremos que os olhares do turismo sejam voltados para cá — afirma Mário Moschen, que atua no conselho deliberativo e fiscal da associação.

Para impulsionar o turismo, a associação planeja uma série de eventos, incluindo a programação especial para o Natal, que promete atrair visitantes de toda a região. Além disso, também estão sendo viabilizadas feiras semanais e eventos culturais, a fim de integrar Galópolis ao circuito turístico da Serra gaúcha.
— Estamos apenas começando, mas temos uma visão clara do nosso potencial. Cada visita é uma oportunidade de mostrar a riqueza de Galópolis e temos um orgulho muito grande disso. Acho que todos os associados tem essa questão de pertencimento intrínseca, nós somos de Galópolis e como sabemos da grandeza e beleza daqui, queremos abrir as portas para que outras pessoas também venham conhecer — diz Sidnei Canuto, associado representante da Cooperativa Têxtil Galópolis (Cootegal).
A associação também está se mobilizando para mapear pontos de interesse de visitação, como a cascata e a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, criando um roteiro que destaca a história e a beleza natural do lugar. Os próximos os incluem parcerias com agências de turismo e a criação de ambientes digitais que facilitem a divulgação das atrações locais. Um dos portais que já foi criado é o perfil da associação no Instagram, onde as novidades estão sendo divulgadas.
Como será o eio
O primeiro eio guiado tem cerca de 10 horas de duração e é feito por um ônibus temático, oferecendo uma imersão pela região. O ponto inicial é o popular Café Galópolis, onde o público poderá experimentar canudinhos com recheio de creme confeiteiro. Em seguida, o percurso chega na fábrica Cootegal, onde ocorre a fabricação de fios e tecidos de lã. Após a visita, o público conhece a Cervejaria Ordeo, com degustação de produtos e para para um almoço na Casa Canale.
Depois do almoço, o eio chega no Instituto Hércules Galló, que guarda a história da família que transformou a região. Os visitantes também conhecem os principais pontos mapeados do Museu do Território, como a igreja, praça central e a Vila Operária. O percurso termina com café no La Casa Nostra, onde é possível degustar os produtos coloniais caseiros que são servidos.
A experiência custa R$ 390 para público geral e R$ 192 para crianças de seis a 10 anos. Crianças menores de cinco anos não pagam. Os ingressos estão a venda pelo site Arte do Turismo. O início do eio está previsto para às 8h15min e o término para às 18h30min.
Região histórica
A história de Galópolis começou a ser construída por volta de 1890, quando tecelões chegaram na região após um conflito trabalhista ocorrido na Itália. Em busca de melhores condições, na 5ª légua, os operários encontraram a abundância de água do Arroio Pinhal, que era ideal para gerar força hidráulica. A partir disso, idealizaram a construção de uma fábrica de tecidos em lã.
A partir da ideia, era preciso viabilizar ainda a construção de uma estrada que trouxesse a matéria-prima e permitisse a logística da fabricação. Em 1904, Hércules Galló entrou na história, investindo e modernizando a fábrica. O empresário viajou para a Europa em 1911 para tratar de negócios e se encontrou com Pedro Chaves Barcellos, um dos empresários mais importantes do Rio Grande do Sul naquela época.
Entre os trâmites relacionados ao capital, em 1912 o Grupo Chaves & Almeida e Galló concretizou o negócio, dando origem ao Lanifício São Pedro. A partir da fábrica, a região começou a se desenvolver de forma gradativa, dando origem às casinhas de tijolos, à igreja da praça e demais moradias e pequenos empreendimentos até chegar na estrutura histórica e aconchegante que pode ser visitada atualmente.