Então, a minha visão geral sobre o evento é que a cidade de Caxias do Sul superou as expectativas. A gente sabe que é um grande desafio para organizar as Surdolimpíadas. É a primeira vez que esse evento vem para um país da América Latina. Isso traz um orgulho muito grande para a gente. A Surdolimpíada ajuda muito na questão da visibilidade social, movimenta a área política, porque a gente enfrenta muitas barreiras e, principalmente, o olhar da cidade sobre as questões da ibilidade. Isso traz um desafio para o comércio, para as pessoas, principalmente relacionado à comunicação. Isso aumenta a visibilidade para o tema.
Qual a avaliação da senhora sobre o desempenho brasileiro?
Eu vejo pontos positivos e alguns a melhorar. A seleção brasileira tem alguns pontos negativos que estão relacionados à falta de apoio. A gente tem um patrocínio recente das Loterias Caixa, conseguimos uma parceria com uma companhia aérea para trazer os nosso atletas. É uma marca na história. A última edição, em 2017, na Turquia, levamos 144 pessoas e nessa conseguimos trazer 322, teve um aumento. A gente vê a questão do desempenho em alto nível dos atletas, que não dá para comparar, teve a questão pandêmica. A gente faz o comparativo entre uma Surdolimpíada, uma Olimpíada e uma Paralimpíada, mas não dá para comparar por uma questão estrutural, o qual o COB e o B já têm apoio, e a CBDS não possui. Tramita na Câmara uma PL 150/2021, que trata sobre a questão dos rees de recursos públicos para o nosso comitê. É uma luta que a gente também tem com a Bolsa Atleta. É a luta que a gente tem para melhorar e dar essa equidade no esporte.
Se lhe dissessem no começo da Surdolimpíada que o Brasil teria esse resultado, a senhora ficaria contente ou o desempenho ficou aquém do esperado?
Antes da pandemia, quando a gente começou, o nosso planejamento era de sete medalhas no mínimo. Era a nossa expectativa. Pensando no ouro, na prata, no bronze, naqueles atletas que a gente sabe que tradicionalmente já tinha. A gente tem observado que a pandemia atrapalhou essa questão do alto desempenho, principalmente porque os treinos ficaram virtuais. Nesse momento a gente já tem cinco medalhas. Depois, temos mais chances nesses dias restantes, no atletismo e no handebol feminino. É um resultado positivo para a delegação brasileira, sim. Eu parabenizo a Ucrânia que está em primeiro no quadro de medalhas e eu gosto de ressaltar que isso se dá pelo modelo que os ucranianos têm feito na política de apoio 100% ao esporte.
O que essa edição das Surdolimpíadas deixa como legado não só para os atletas, mas também para o Comitê?
Uma marca na história vai ser o Brasil ter sido sede de um evento como esse, por ser o primeiro na América Latina. Isso é algo que reconhece a gente como capaz, mas também a marca que mostra que o surdo é capaz de competir em alto nível. Em outro ponto, tem a questão que a gente pode se preparar para a próxima edição. Esse é o nosso legado, de ficar com isso no Brasil e lutar para Tóquio em 2025.
O seu mandato à frente do CBDS acaba em 2024. Como a senhora trata esse próximo ciclo surdolímpico?
Atualmente, a CBDS está em alto crescimento. A gente só tem ganhado, é um o muito grande que a gente deu na história, que é um marco na minha gestão, que foi o patrocínio das Loterias Caixa, a melhora nas estruturas, várias questões que eu precisei reorganizar, principalmente nos treinamentos. É um o grande que a minha gestão tem esse desafio até 2024. Eu quero desenvolver muito o esporte para crianças. Tenho desejo da reeleição para que eu possa dar prosseguimento nos meus trabalhos.
Como fazer para que o perfil de atletas surdos brasileiros que participam das Surdolimpíadas seja rejuvenescido?
Como que funciona a estrutura da CBDS, inicia na associação de surdos, depois na federação e depois que vem a CBDS. Então, eu não trabalho sozinha. É preciso que essas associações vão nas escolas bilíngues de surdos e procurem crianças e jovens para estarem no esporte. A gente sabe que o esporte não está relacionado apenas à competição, mas também à autoestima, do desenvolvimento de vida. É importante que as associações e federações busquem esses jovens. Hoje, a gente tem uma delegação com idade mais avançada, mas hoje, enquanto CBDS, a gente desenvolve dois grandes projetos com a parceria das Loterias Caixa em São Paulo. Uma é a clínica de vôlei e de futsal, um projeto piloto. A CBDS conseguiu contratar profissionais que sabem libras para comunicar. Isso já é um o. Meu desejo é criar clínicas para outras modalidades para melhorar o futuro do nosso esporte.
A gente vê uma questão para a CBDS, que é a mesma que já foi vivida pelo Comitê Paralímpico anos atrás, que é a falta de investimento público e privado. Como fazer para capitalizar esse tipo de investimento?
A gente sabe que algum tempo atrás o B teve um histórico de muita luta e conquista. Vemos que as pessoas, apesar de ter uma deficiência, elas compartilham de uma mesma língua, então não dá para se comparar com o que é uma confederação de surdos, porque somos uma minoria linguística. A gente sempre precisa que nos espaços tenham intérpretes de libras, que reconhecem as legislações, que os editais estejam contemplando as línguas de sinais. É uma dificuldade buscar verba, porque não temos nem ibilidade para isso. Precisamos como vincular as secretarias do esporte, ir atrás de parlamentares, para que a gente consiga desenvolver. Essa é a nossa garantia. Isso oscila muito, mas é uma luta que garanta a ibilidade. Um ponto importante é que essa PL 150/2021, que eu citei, na semana ada, saiu da comissão do Esporte aprovada, foi para o CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) e está caminhando, se tudo der certo, para o Senado e tendo essa aprovação é uma outra história. Chegaríamos ao mesmo patamar do COB e do B com rees públicos. Isso é muito importante para ter uma questão de estrutura.
O que a senhora poderia deixar de recado, não apenas para aqueles que desejam ingressar no esporte surdo, mas também para todos os ouvintes que pouco sabem sobre o trabalho feito pela CBDS?
O primeiro que eu gostaria de dizer é que o momento da Surdolimpíada é muita informação. A gente está dando entrevista, as mídias têm se movimentado para conhecer mais e com mais profundidade o esporte surdo. Isso é muito positivo. Por outro lado, essa divulgação chegue até as crianças surdas. Para vocês terem ideia, a escola do INES( Instituto Nacional de Educação de Surdos) saiu do Rio de Janeiro e veio para esse evento. Olha como isso é importante. Além disso, a gente quer que chegue aos pais ouvintes de crianças surdas para entender qual o caminho para garantir o esporte na vida do filho. Antes, não era fácil essa informação e acredito que com esse evento aqui no Brasil, isso chegue mais rapidamente.
Eu sei que essa edição ainda não acabou, mas pensando em Tóquio em 2025, como a senhora projeta o desempenho brasileiro no Japão?
Nesse momento, tenho percebido que os atletas estão em uma reflexão profunda, para aumentar o seu nível perante outros países. A gente está lutando para a Bolsa Atleta, porque acredito que o surdo sendo contemplado com isso ele consegue ter o foco no esporte. Hoje, a realidade é o surdo priorizar o trabalho e não o esporte, pois não tem esse apoio. Acredito que em 2025 a gente conseguindo bolsa, podemos buscar 10 medalhas.