
O nível de investimentos realizados por empresas para elevação da capacidade produtiva, um dos motores do crescimento da economia, patina no país em 2018. Depois de ensaiar retomada no ano ado, o indicador perdeu fôlego nos últimos meses por causa de fatores como a elevação nas incertezas da corrida eleitoral.
O índice que mede os aportes em máquinas e equipamentos para a produção é chamado de formação bruta de capital fixo (FBCF). No segundo trimestre deste ano, após quatro altas consecutivas, caiu 1,8% em relação aos três meses imediatamente anteriores, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
– O cenário eleitoral traz incertezas. É visto com preocupação pelo empresariado. Isso afeta a retomada da economia – diz Mauro Rochlin, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O indicador iniciou o ano com relativa estabilidade. De janeiro a março, houve pequena alta de 0,3% na comparação com os três meses imediatamente anteriores. O tímido avanço ficou abaixo dos três registrados de maneira consecutiva a partir do segundo trimestre de 2017 (0,9%, 2% e 1,8%).
– Como no ano ado a economia teve leve crescimento após a recessão, as empresas precisaram desengavetar investimentos. Os aportes foram pontuais e, em grande parte, voltados à substituição de máquinas – pondera o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.
Analistas lembram que a confiança dos empresários, considerada um dos pilares que sustentam os investimentos privados, foi abalada neste ano por episódios como a greve dos caminhoneiros. Com a turbulência no cenário, as companhias tendem a represar aportes. Segundo a FGV, o índice que mede a confiança empresarial na indústria, nos serviços, no comércio e na construção civil ficou praticamente estável em agosto. Em escala de zero a 200 pontos, a marca registrada foi de 91,6, abaixo da barreira média de cem.
– Os investimentos precisam voltar com mais força para o país se recuperar. Mas, para isso, também é necessário que a confiança retorne – frisa Rochlin.
Conforme Cagnin, os aportes de companhias seguem esbarrando em dificuldades de o ao crédito no país, mesmo com o recente ciclo de cortes na taxa básica de juro, a Selic. O economista acrescenta que a indústria ainda aguarda para fazer investimentos mais robustos pelo fato de haver capacidade ociosa nas fábricas. Isso significa que parte das empresas consegue atender à demanda atual sem a necessidade de aportes direcionados à compra de equipamentos.
No Brasil, houve melhora nesse indicador em julho. Frente ao mês anterior, a utilização da capacidade instalada subiu de 66% para 68%, mostra a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Foi o maior percentual registrado em julho nos últimos quatro anos, apesar de ter ficado um ponto percentual abaixo da média histórica do intervalo.
– A retomada da economia, além de lenta, é descontínua. A capacidade ociosa é resultado disso. Em parte das empresas, máquinas seguem paradas. Então, não há motivos para investir agora – explica Cagnin.
Apesar do resultado negativo frente aos três meses iniciais deste ano, o indicador de FBCF cresceu 3,7%, em volume, em relação ao segundo trimestre de 2017. O avanço, o terceiro consecutivo, tem relação, em parte, com a base tímida de comparação, ponderam analistas. No acumulado de 2018, a alta alcança 3,6%.
Conforme o IBGE, no segundo trimestre, em valores correntes, os aportes para aumento de produção representaram 16% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país. A taxa de investimentos em relação ao PIB é a segunda menor da série histórica – iniciada em 1996 – para o período de abril a junho. O índice deste ano é maior apenas do que o registrado no segundo trimestre de 2017 (15,3%).
Esperança de ritmo mais acelerado em 2019
Analistas projetam que a confirmação de investimentos privados para aumento de produção poderá ocorrer em ritmo mais acelerado a partir de 2019. A avaliação é ancorada na previsão de que, ultraado o período eleitoral, empresários terão mais clareza no cenário para novos aportes.
– A retomada mais forte poderá vir a partir de 2019. Isso supõe que haverá redução nas incertezas políticas e um governo eleito com capacidade de atuar nos próximos quatro anos – afirma o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.
Como os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) abrangem o segundo trimestre, ainda não foi possível analisar o desempenho dos investimentos no começo do segundo semestre. Apesar disso, números do Instituto de Economia Aplicada (Ipea) estão em linha com a projeção de analistas de que o país terá dificuldades para reação mais consistente ainda em 2018.
Em julho, o indicador Ipea mensal de formação bruta de capital fixo (FBCF), considerado uma espécie de prévia do cálculo do índice do IBGE, teve queda de 1% em relação a junho. Na comparação com igual período de 2017, houve alta de 4%.
– Há ausência de sinais mais vigorosos que incentivem grandes investimentos neste momento no país – diz Cagnin.
Em 2017, os aportes destinados ao aumento de produção responderam por 15,6% do PIB brasileiro. A taxa anual foi a menor da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. O maior índice foi registrado em 2013. Na época, a taxa de investimentos em relação ao PIB chegou a 20,9%, conforme a instituição.
– O ideal seria elevar esse percentual para perto dos 25% – avalia o economista Marcelo Portugal, professor da UFRGS.
O avanço no nível de investimentos privados é defendido por especialistas pelo fato de estimular maior crescimento econômico. Com elevação na produção de empresas, pode haver melhora em outros indicadores, como emprego.