Paul McCartney já está em Porto Alegre
O currículo de Frank Jorge, mais do que o habilitar, o coloca quase como figura óbvia para a função. Por influência do pai, médico de Uruguaiana que assiduamente frequentava cursos para lá da Fronteira, o Frank versão guri ouvia, ainda que de orelhada, discos de tango e dos Beatles vindos de terras portenhas. Se hoje é possível detectar um sotaque castelhano no rock de Frank, muito se deve aos cursos do pai. Todo o resto se deve aos discos dos Beatles: a estreia ao lado dos irmãos Birck com a banda juvenil Prisão de Ventre, a safadeza pop dos Cascavelletes, a revolucionária e ainda não totalmente compreendida loucura da Graforreia Xilarmônica, a carreira solo, que já é o ambiente em que Frank tem sua produção mais frutífera, com quatro discos, sendo um deles recém-lançado – além dos livros, dos saraus, dos programas de rádio e TV, dos cursos de produção musical na universidade, do constante e insistente apoio à produção musical do Estado e do que mais vier.
No Beira-Rio, ao lado do parceiro antigo Luciano Albo, deve rear sua produção do início ao fim, com músicas como Nunca Diga, Eu, Amigo Punk, Sob um Céu de Blues e Elvis.
– Li a biografia do Paul escrita pelo Barry Miles (Many Years from Now, de 1997), e lá fala muito sobre esse aspecto curioso do Paul. Ele ficava ouvindo as bandas novas, ia nos shows. E eu acho isso muito importante. Sempre me preocupei com a renovação da cena, em ter bandas diferentes, malucas, em ajudar a divulgar, em postar no meu Facebook – compara o Frank, para, em seguida, concluir: – Não consigo me imaginar só como músico ou artista. Gosto até de fazer um glamour disso, de ser um cara do povo, simplão. E ser chamado para abrir o show do Paul é comovente, porque é um reconhecimento a esse jeito com que toquei minha vida.
Na sexta, no entanto, Frank não vai poder repetir o jeito simplão com que chegou ao show de Paul na primeira vez em que a lenda britânica veio a Porto Alegre – não por vontade própria, mas por obrigações profissionais:
– a um filme do show de 2010 na cabeça. Eu nunca imaginava assistir a um show do Paul. Fui para a fila, emocionado, igual todo mundo, fiquei ali esperando como qualquer um – lembra, antes de segundos de silêncio: – A vida nos apronta cada uma...