Fiquei em contato com Luisa Mell, acompanhando de longe o difícil translado de Rowena de Teresina para o Rancho dos Gnomos, em São Paulo, onde ela mora hoje com boa alimentação e cuidados médicos. 

Como você visitou Marsha, agora Rowena? Como foi sua interação com a ursa e em que estado a encontrou?
Rowena não poderia estar em lugar melhor: espaçoso, todo gramado, com uma gruta, piscina e abrigo interno. Cheguei bem pertinho dela e lhe dei suco de frutas, ela também lambeu minha mão com sua língua quente e macia quando lhe ofereci bolachas com mel. Foi muito emocionante para mim. 

Em que medida sua experiência como avó a levou a escrever a obra?
Como mãe, eu sempre inventava histórias para meus meninos quando pequenos. Com minha neta, hoje adolescente, acontecia o mesmo. Meu neto Arthur, ainda de fralda, não tem idade para se interessar por livros e histórias contadas. 

Divulgação / Editoria Globo
Luisa Mell, Brigitte Bardot e Rita Lee na ilustração de Guilherme Francini

Você tomou algum cuidado para que a temática não soasse pesada ou triste demais?
As crianças de hoje gostam de histórias verdadeiras. E a história de Rowena não é um conto de fadas. Acho bom que desde cedo a criançada aprenda como os humanos maltratam bichos apenas por entretenimento. 

Luisa Mell contribuiu com o resgate da ursa, mas no livro você também coloca Brigitte Bardot como uma "bruxinha" colaboradora. Ela teve algum papel no caso real? Qual é sua relação com Bardot?
Já faz um tempo que me correspondo diretamente com papisa Bibi, ela também acompanhou e torceu para que o resgate de Rowena desse certo. Já traduzimos o texto do livrinho para o francês e logo mais estará em suas mãos. 

Fale mais sobre seu envolvimento com a causa animal. Quais são os outros casos de resgate nos quais já se envolveu?
Hoje, quem faz esse trabalho de resgate é Luisa Mell, que peita briga com os poderosos que usam bichos para ganhar grana. Estive no instituto dela e pude ver a limpeza e dedicação com que são tratados os bichos que ela recolhe. Luisa é nossa Bardot tropical. De minha parte, além de meus bichos, sempre pego gatos e cachorros abandonados e arrumo um lar. E desde pequena fazia isso naturalmente: escondia gatos de ruas em casa, nos anos 70 adotei jaguatiricas vítimas de maus-tratos e por aí vai.  

Questões ligadas ao meio ambiente, incluindo a preservação de animais ameaçados de extinção ou submetidos a maus tratos, estão em permanente discussão. Como você ache que esta questão está sendo tratada no Brasil em particular?
O Brasil vive uma espécie de Idade Média no que se refere ao respeito animal, basta ver que até hoje existem rodeios, vaquejadas, farras do boi, rinhas de galo e de cachorro, contrabando de bichos exóticos, circos e zoológicos e outros tantos eventos que exploram e humilham animais na frente de crianças. Sem contar a brutalidade que acontece em aviários, abatedouros, criadores que só visam lucro e tratam bichos como objetos de uso pessoal. 

Você foi uma entusiasta e usuária de primeira hora da revolução da comunicação trazida pela internet. Como avalia a transformação da internet do fascínio inicial como “janela para o mundo” até a virulência da redes sociais e as fake news? Qual sua relação com a internet hoje?
Hoje uso a internet com moderação, já fui bem mais viciada. As pessoas se transformam cada vez mais em cyborgs e vejo como um traço interessante dessa geração que já nasce com um iPhone a tiracolo. O efeito colateral disso ainda pouco se sabe: um não aprofundamento em assuntos não virtuais e pescoço de girafa são dois deles. 

Sua autobiografia foi muito bem recebida por fás e críticos. Está no seu horizonte levar sua história para o cinema ou para um musical no teatro, a exemplo de Elis Regina, Tim Maia e outros artistas?
Escrevi a biografia como uma terapia, exorcizando as bad trips e exortando as boas. Nunca pensei que fosse fazer tanto sucesso. E, sim, estamos trocando figurinhas com a produtora Bionica, que pretende levar minha vida para a telona baseada na biografia. Temos feito reuniões e vamos torcer para que tudo saia bonito. 

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