
Falar de Che Guevara em uma época de polarizações ideológicas é mexer em um vespeiro, e o veterano jornalista Flávio Tavares sabe disso ao lançar As Três Mortes de Che Guevara, que será autografado neste sábado, às 17h30min, na Feira do Livro de Porto Alegre. O livro é um misto de ensaio e biografia que reconta a vida do guerrilheiro argentino concentrando-se em seu rompimento com a revolução cubana e a tentativa de estabelecer focos guerrilheiros no Congo e na Bolívia. Mexer nesse vespeiro, para o autor, é sinônimo de discutir temas polêmicos a sério – algo de que o Brasil está precisando. Colunista do GaúchaZH, Tavares tem uma das trajetórias mais ricas do jornalismo nacional. De formação à esquerda, foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador Charles Elbrick, em 1969, durante a ditadura militar. Na entrevista a seguir, fala sobre Guevara, o atual momento do país e a fragilidade institucional dos partidos políticos brasileiros.
Foi o aniversário de 50 anos da morte de Che Guevara que o impeliu a escrever este seu mais novo livro?
A efeméride me fez adiantar o trabalho e escrever seis meses sem parar. Foram 12, 13 horas por dia. Perdi cabelo com esse livro. Mas o projeto é mais antigo, eu só não sabia em que ia redundar. Fui descobrindo aos poucos, numa espécie de castelo de cartas. Um detalhe levava a outro. Por exemplo: fui reunir anotações de um encontro de 1974 com Reque Terán, um coronel boliviano que deu o primeiro golpe na guerrilha. Eu tinha anotações de conversas que havia tido, fazia isso na época. E encontrei anotações da conversa com o Major Sánchez, que foi prisioneiro de Guevara. Encontrei-o quando ele estava no exílio, no Peru – eu também era um exilado naquele momento. Reuni tudo isso e escrevi sem parar, aproveitando a data, porque, principalmente no Brasil, as coisas são esquecidas. Não temos memória.
Che é um dos personagens mais biografados das últimas décadas. O senhor de algum modo sentiu uma pressão de apresentar algo novo sobre alguém a respeito de quem já se escreveu tanto"> As Três Mortes de Che Guevara
Ensaios, L&PM Editores, 252 páginas, R$ 59,90
A sessão de autógrafos, na Feira do Livro de Porto Alegre, será neste sábado (4), às 17h30min.