Saúde mental dos alunos preocupa universidades, que oferecem serviços gratuitos com ajuda profissional
— É difícil, porque você tem um impacto genérico e muito discutido de que exposição à violência pode causar tanto aumento de violência, quando não tem mediação, quando é mimético, quanto a prevenção da violência, quando é objeto de reflexão, objeto de pensamento crítico.
Além disso, para Teixeira, o borramento entre a ficção e a realidade gera um problema de contribuição para um senso de insegurança e de medo nas esferas coletivas.
— A gente não consegue necessariamente localizar ou apontar concretamente por que vivemos com medo, do que temos medo, mas ele se manifesta nas interações, ou na falta de interações, no isolamento, na falta de busca por soluções coletivas para problemas coletivos, e um reforço das estratégias individuais para sobreviver — explica o professor.
Ele ressalta que o caminho do individual ao coletivo se torna cada vez mais rápido. Ele distingue duas dimensões desse fascínio: como um consumo cultural consciente; e como algo perigoso quando esse consumo cultural se torna essencial como condição de existência.
— Quando você transforma esse fascínio em uma essencialização, aí sim a gente tem um problema que transborda do individual para o coletivo, e ele é muito perigoso — salienta.
Neste mesmo sentido, essa profusão de histórias também suscita um debate sobre os limites em recriar acontecimentos e de como veicular crimes sem exaltá-los. Há especialistas que defendem que não se deve recontar crimes cruéis. Conforme Dunker, isso segue a lógica do suicídio e de massacres a escolas:
— Se você espetaculariza isso, você acrescenta um ganho de satisfação a mais e de desinibição a mais para aqueles que já estão no limiar de fazê-lo. Eu não gosto muito dessa palavra, mas funciona como uma espécie de gatilho, de “olha, isso não é tão ruim assim” — explica o psicanalista, destacando que isso pode construir uma espécie de “imagem heroica” para alguns, de que a pessoa será lembrada pelo crime.
O fascínio também pode refletir na busca pela atuação profissional. A delegada e professora Elisangela percebe que muitos alunos buscam o curso de Direito para entender as questões criminais que hoje pautam o espaço público. Muitas pessoas também acabam buscando a atividade policial como decorrência desse fascínio, já que a investigação deriva da curiosidade pelas formas de elucidação de crimes.
O interesse do ser humano por crimes violentos vem desde a antiguidade e os tempos bíblicos, quando as pessoas assistiam publicamente às punições aos criminosos, lembram os especialistas. Com o surgimento da imprensa, as notícias aram a abordar os crimes, e, mais tarde, as histórias de detetives e criminosos ganharam espaço na literatura. Ou seja, o e foi alterado, mas o interesse continua o mesmo — sendo ainda mais fácil obter o conteúdo na atualidade, por meio da internet ou da TV.
As narrativas não são tão variáveis, pondera Dunker, mas a história do crime é uma das mais centrais da cultura e da civilização humanas. Isso porque, de certa forma, o que funda a experiência social são as leis e as regras — que as pessoas am a querer transgredir.
A multiplicação de séries, podcasts e documentários que abordam crimes que aconteceram na vida real é baseada no interesse do público. Configura-se, assim, uma relação que se retroalimenta, conforme os especialistas.
— Nenhum desses produtos precisa ser banido, porém seu consumo deve ser consciente e responsável, especialmente considerando as condições do espectador — conclui Elisangela.