"24 Horas": quando as coisas eram mais simples (ou quase isso)
"24 Horas": quando 
as coisas eram 
mais simples 
(ou quase isso)
  • Em "After Life", Ricky Gervais vai do riso ao choro, do belo ao incômodo

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ao choro, do belo 
ao incômodo
  • "The English Game" mata a saudade do futebol, mas não da bola

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da bola
  • Noite Adentro é parente de Expresso do Amanhã, pois seus personagens também foram sentenciados a vagar pelos ares, talvez indefinidamente. E, embora não tão estratificado, o avião é igualmente um microcosmo. Temos homens e mulheres, cristãos e muçulmanos, militares e contrabandistas, trabalhadores braçais e influenciadores digitais, idosos e até uma criança. Entre a dúzia de personagens – todos importantes, mas não por isso imunes –, destacam-se Mathieu (Laurent Capelluto), o piloto que tenta manter o controle da situação; Sylvie (Pauline Etienne), uma jovem que recém ficou viúva e está viajando com as cinzas do namorado; Ayaz (Mehmet Kurtuluş), um turco elegante mas algo irascível; e Terenzio (Stefano Cassetti), um oficial da Otan que, logo na abertura do primeiro capítulo, sequestra um voo comercial e exige antecipar sua partida e mudar seu destino. É ele quem sabe, sem muitos detalhes, o que está acontecendo no mundo.

    Netflix / Divulgação
    O major Terenzio (Stefano Cassetti) sequestra o avião e dá as notícias: o apocalipse chegou

    O cenário e o clima de mistério e suspense remetem a outros seriados aéreos, como o recente Manifest e o cultuado Lost. Com este último, há uma aproximação na estrutura dos episódios: cada um é batizado com o nome de um personagem e começa com um flashback mostrando o que ele ou ela estava fazendo antes do embarque.

    Mas há uma diferença brutal em relação a Lost e Manifest: a série belga é enxuta. São apenas seis episódios na primeira temporada (o epílogo deixa gancho para pelo menos mais uma), e todos curtinhos – de 35 a 40 minutos cada. Dá para maratonar em menos de quatro horas.

    Netflix / Divulgação
    Sylvie (Pauline Etienne) e Ayaz (Mehmet Kurtuluş) são dois dos principais personagens

    Essa compressão do tempo garante, por um lado, um ritmo frenético e uma tensão constante que não nos permitem abandonar a história. Por outro, às vezes tem-se a impressão de que um personagem mudou de ideia ou de espírito muito rapidamente.

    Mas não é nada que chegue a comprometer a fruição de Noite Adentro, uma série em que a cada episódio revela segredos dos tripulantes e dos ageiros, lança novos desafios a eles (desde como voar gastando o mínimo de combustível até descobrir que os alimentos também podem sofrer os efeitos nocivos do sol) e reflete questões da pandemia. Os personagens precisam encarar, como diz o mecânico Jakub, "um mundo sem as pessoas que amamos" – é um luto repentino como aquele que se abateu sobre familiares, amigos e colegas das mais de 370 mil vítimas da covid-19. Precisam sopesar os dramas pessoais com os interesses coletivos, como ocorre em todos os países afetados. Precisam de empatia e cooperação, mas também de medidas drásticas quando for necessário. Precisam fazer renúncias, mas preservando o que nos torna humanos. Precisam olhar para o horizonte, mas também empregar o bordão que Sylvie ensina a Mathieu: "Um problema de cada vez".

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