Temendo que o resultado da COP28 se mostrasse inócuo, ambientalistas mais críticos comparavam esse prédio da foto, dentro do local da conferência, como uma espécie de símbolo: é o mais bonito, mas, com as portas fechadas e sem atividades no interior, não serviu para nada.
Nos debates ao longo de quase duas semanas, ficou muito clara a divisão do mundo entre nações que estão sofrendo de forma impiedosa os efeitos das mudanças climáticas, como os países-ilha (Samoa, Ilhas Marshall e Fiji, por exemplo) e aquelas nações em desenvolvimento muito dependentes de petróleo. Se nada for feito, essas pequenas nações do Pacífico e do Atlântico irão desaparecer. Se os combustíveis fósseis forem cortados, do dia para a noite, as outras nações quebram. Nos dois casos, morrem pessoas. Por isso, a transição é tão importante.
A fala do chefe da delegação das Ilhas Marshall, John Silk, foi comovente:
— Não viemos aqui para a nossa sentença de morte. Viemos para lutar pelo objetivo de 1,5ºC e a única forma de o conseguir é abandonar os combustíveis fósseis. Não vamos marchar silenciosamente para as nossas sepulturas nas águas.
Por outro lado, a Nigéria, por meio de seu ministro do Meio Ambiente, Iziak Salako, disse que pedir que a África elimine gradualmente combustíveis fósseis é pedir que "deixemos de respirar sem e de vida".
Desde o rascunho frágil apresentado na segunda-feira (11), governos que tinham entrevistas coletivas marcadas ao longo da terça-feira (12) começaram a cancelá-las uma a uma. Uma das mais esperadas, a fala de John Kerry, enviado de Joe Biden, marcada com antecedência, por exemplo, foi adiada para quarta-feira (13). Era um indicativo de que as negociações estavam avançando nos bastidores e que qualquer pronunciamento poderia estragar o diálogo.
Durante toda a madrugada, nos corredores da Blue Zone, a área de negociações da COP28, via-se jornalistas, ambientalistas e observadores recostados pelas paredes e pilastras de plantão à espera do esboço do documento final, que só saiu às 7h (meia-noite em Brasília).