Desde dezembro de 2015 longe da Dudalina, comprada por dois fundos americanos e depois pela Restoque (Le Lis Blanc, John John, entre outras marcas), dedica a maior parte de seu tempo ao terceiro setor, mas segue como consultora do Warburg Pincus, um dos dois compradores da empresa da família, entre outras atividades profissionais:
– Meu sonho é fazer semana TQQ (terça, quarta e quinta), mas não consigo.
Aos 61 anos e com cinco netos, Sônia confidenciou: vai casar. Está meio difícil de explicar aos netos, brincou, mas chegou a hora.
As origens
Uma dos 16 filhos de Duda e Adelina, teve pai poeta e mãe empreendedora. Ao contar como ajudava a vender camisas, ainda criança, detalha a logística: a refeição tinha pão feito em casa e frango assado. Em uma das viagens, a noite caía quando quis voltar para casa e ouviu da mãe: "Só quando vender a última camisa".
– Mais do que fazer camisas, ela ensinou a arregaçar as mangas.
Relata que, quando a empresa já era respeitada, a mãe pedia para não detalhar o "trabalho infantil" e que batia nos filhos por não ser politicamente correto. Ela, claro, segue contando, cheia de amor pela mãe. Na mudança da família para Blumenau, trocou pela primeira vez a escola pública por uma privada, a melhor da cidade, encontrou colegas de outra classe social, e foi alvo de bullying por ser "colona de Luiz Alves, feia e mal-arrumada". Transformou em estímulo para "mudar de paradigma".
Família e empresa
Com a morte de Adelina, em 2008, o que era uma família se dividiu em 16. Sônia não esconde os conflitos com os irmãos – com alguns nem fala mais – e os pedidos para que, quando começou o assédio para vender a empresa, não contassem sobre as negociações nem aos maridos ou mulheres. Na fábrica, conta que a faxineira se espantou ao receber pela primeira vez participação nos lucros. Algum tempo depois, ao comentar o trabalho, disse à chefe que devia prestar mais atenção porque tinha gente fazendo "corpo mole".
– Ganhamos uma gestora – comenta.
Tem orgulho de ter preparado a sucessora, que hoje conduz a marca Dudalina, mas não esconde que não tinha identidade com a nova istração da empresa.
Mulheres de negócios
– Estou em várias frentes, no grupo Mulheres do Brasil, liderado pela Luiza Trajano, na Endeavor, na qual sou a única mulher do conselho, também faço parte do conselho curador da Fundação Dom Cabral, estou na Ernest Young. Quero devolver para a sociedade aquilo que aprendi. Estou em uma fase de aprendizado fantástico. Quando você está ligado 24 horas por dia a uma empresa, a agenda complica. Minha situação está muito boa porque tenho tempo para fazer palestras, contar histórias e dizer para as pessoas que é possível. A empresa está lá, espero que o legado que deixei seja respeitado, construímos uma história muito bonita. Hoje posso falar para mulheres que o network é importante, tanto que mudou minha vida. O que está faltando para as mulheres é network.
Lições fundamentais
– Minha coragem sempre foi maior do que meus medos. Sempre fui corajosa. O "não" eu sempre tive, estou à procura do sim. Isso vem muito da minha mãe, uma mulher à frente de seu tempo. Ela não aceitava "não" de primeira. Sempre tentei estar disponível. É um momento muito difícil para o Brasil, mas temos que ar por isso e surfar outra onda, como diz a Luiza (Trajano). Temos dois Brasis. O Brasil do terceiro setor é maravilhoso, sustenta o país, dá força.